Uso de probióticos pode prevenir dor abdominal funcional na criança 1127

A prevalência da dor abdominal funcional em idade pediátrica tem um peso significativo nas consultas de gastroenterologia pediátrica e nas consultas de pediatria em geral, explica Rosa Lima, gastroenterologista pediátrica do Centro Hospitalar e Universitário do Porto, acrescentando que, em 25% dos casos, é a dor abdominal que levam os pais a procurar um médico, mas nem sempre são motivo de alarme. “Muitas vezes, o tratamento passa por gerir a ansiedade dos pais e da criança e também atuar ao nível da microbiota intestinal”, refere a especialista.

“Geralmente, na dor abdominal funcional não precisamos de ser invasivos em termos de exames médicos, até porque podemos estar a preocupar os pais e a criança, o que pode perpetuar ainda mais o quadro. A dor abdominal funcional está relacionada com alterações do eixo intestino-cérebro do qual participa a microbiota intestinal”, afirma a especialista.

Rosa Lima explica, ainda: “Se nós conseguirmos modelar a microbiota intestinal, por exemplo com probióticos, podemos controlar a doença.”

Para fazer um correto diagnóstico, “importa saber as características da dor, se a criança está bem, se tem tido uma evolução ponderal adequada, se é uma criança saudável fora dos períodos da dor”. Associados à dor podem estar outros sinais e sintomas como problemas de defecação (obstipação ou diarreia), vómitos ou regurgitação.

Acrescenta, no entanto, que “há um conjunto de sinais aos quais devemos estar atentos no sentido de perceber se estamos perante um quadro funcional ou de doença orgânica”. Explica que a dor funcional se localiza, geralmente, na região à volta do umbigo, enquanto outros quadros de dor podem estar noutras localizações e obrigam a considerar outros diagnósticos. “Entre os sintomas que devem levar a uma consulta no médico estão os vómitos persistentes (por vezes, acompanhados de sangue), dor perianal, perda de peso e febre. “Se com a dor abdominal existem também estes sintomas, estes têm de ser investigados de forma mais exaustiva por um médico”, salienta.

Entre os fatores que podem interferir com a dor e com a forma como a criança a perceciona estão a alimentação, a ansiedade, o uso excessivo de antibióticos (desequilibram a microbiota, causam diarreia), o divórcio parental ou o bullying, pelo que a médica considera importante ter em conta estes fatores na análise clínica e no tratamento.

Quanto ao recurso aos probióticos, Rosa Lima refere que os Lactobacillus reuteri, os Bifidobacterium infantis e o Lactobacillus rhamnosus demonstraram, em diversos estudos, eficácia na redução do risco e no tratamento de distúrbios de dor funcional em pediatria. “Tendo em conta que existe uma relação entre a microbiota intestinal e os distúrbios gastrointestinais funcionais na criança, o uso de probióticos abre possibilidades terapêuticas e preventivas interessantes”, remata a médica.