Um instituto de saúde pública ao serviço da nutrição 2976

O Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) é o laboratório do Estado no setor da saúde, o laboratório nacional de referência e o observatório nacional de saúde. A sua missão é cumprida através de diversos departamentos técnico-científicos, entre estes o Departamento de Alimentação e Nutrição (DAN), os quais são de âmbito nacional e se organizam em unidades funcionais localizadas em Lisboa, Porto e Águas de Moura.

O DAN compreende as unidades de: Investigação e Desenvolvimento, Observação e Vigilância, e Referência. Esta última superintende os laboratórios de Química, de Microbiologia e de Materiais de Referência. As diferentes unidades cooperam ativamente, com entrecruzamento ao nível de pessoas, dos equipamentos e dos objetos de estudo e investigação.

No DAN, como em todo o INSA, a investigação é intensa, em domínios muito diversos. Entre eles incluem-se os mecanismos moleculares envolvidos na interação alimentação/saúde/doença, através da identificação e quantificação das diferentes espécies dos elementos químicos que podem existir em concentrações vestigiais, de que são exemplos o selénio, o arsénio, o crómio ou o mercúrio.

Realizam-se também estudos epidemiológicos laboratoriais das toxinfeções alimentares, trabalhando sobretudo em análises de vigilância em unidades de alimentação e no apoio à indústria, englobando agentes como bactérias ou vírus.  A este respeito é especialmente relevante destacar que o INSA, através do DAN, é o Laboratório Nacional de Referência para vírus de origem alimentar, para todos os géneros alimentícios de origem animal e não animal.

Trabalhamos igualmente na avaliação da composição nutricional de alimentos, sendo de salientar o contributo para a monitorização e estudo do marketing alimentar dirigido a menores em Portugal, assim como a monitorização da ingestão alimentar e da composição de alimentos, em particular ao nível da quantidade de sal, gordura trans e teor de iodo que neles estão presentes. Todos saberão que é do trabalho do DAN que resulta a conhecida Tabela da Composição dos Alimentos, obrigando a um trabalho permanente de atualização, realizado de forma harmonizada internacionalmente. A linha que une tudo o que fazemos, de modo transversal, é a aposta na investigação e desenvolvimento, que no INSA se assume como marca indelével.

O DAN coopera com instituições congéneres e outros organismos nacionais e internacionais, nomeadamente a Organização Mundial da Saúde (OMS). Através deste Departamento, o INSA é Centro Colaborativo da OMS em iniciativas como a vigilância e prevenção da obesidade infantil, de que é exemplo o conhecido Sistema de Vigilância do Estado Nutricional Infantil (COSI Portugal). Trabalhamos também com a Organização para a Agricultura e Alimentação das Nações Unidas, ou ainda com a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos, a quem são transmitidos os dados alimentares, participando nos Programas e Planos Nacionais e Internacionais.

Iniciei recentemente funções como coordenadora deste Departamento, depois de terminar anos de dedicação e entrega ao associativismo profissional. É uma boa ocasião para refletir sobre o enorme contributo que o Departamento e o Instituto têm dado e podem continuar a dar para a saúde pública no nosso país.

O INSA acompanha-me desde os bancos da faculdade. Os livros e os artigos de Gonçalves Ferreira constituíram e, em alguns casos ainda assim continua a ser, material de estudo para gerações de nutricionistas. A ele se deve, no nosso país, o início da investigação da composição nutricional dos alimentos, que ainda hoje é uma das áreas fundamentais do DAN, que se reflete na já referida Tabela da Composição de Alimentos, mas também o estudo dos consumos alimentares e das necessidades da população numa lógica de saúde pública.

Foi essa visão que veio a dar lugar ao primeiro inquérito alimentar nacional, levado a cabo por esta instituição em 1980. Os vários documentos escritos por Gonçalves Ferreira, nas décadas de setenta e oitenta do século passado, constituíram um inestimável contributo para a definição de uma política alimentar e de nutrição em Portugal. Podem ser considerados como muito avançados para o seu tempo, assim como foi visionária a criação do Conselho de Alimentação e Nutrição e do Centro de Estudos de Nutrição. A Gonçalves Ferreira seguiram-se vários outros impulsionadores do estudo da nutrição em Portugal, que fazem desta instituição pública uma referência na investigação.

Logo nos primeiros dias na coordenação deste Departamento, fiquei marcada pela confirmação daquilo que antes intuía, a enorme qualidade dos seus profissionais, a dimensão da sua produção científica e o seu sentido de colaboração e de serviço público. Esta valiosa equipa é um legado de Maria Antónia Calhau e de Isabel Castanheira, que me antecederam na coordenação, e engloba dezenas de pessoas, de diversas formações, que incluem biólogos, engenheiros, farmacêuticos, nutricionistas, químicos, numa mescla perfeita de origens académicas. A maior parte dos colaboradores acresce à sua capacitação de base uma intensa formação pós-graduada, com elevadíssimo número de mestrados e doutoramentos, traço de distinção que em muito contribui para a excelência da produção deste Departamento.

O DAN aceitou com muita satisfação o repto da VIVER SAUDÁVEL para que, durante os próximos meses, possamos partilhar nesta revista alguns dos contributos que damos para a saúde pública no nosso país. Estamos profundamente comprometidos com a ambição de ajudar os portugueses a terem uma alimentação melhor, uma saúde maior e uma vida mais feliz.

Alexandra Bento
Coordenadora do Departamento de Alimentação e Nutrição do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge
Nutricionista 0001N, especialista em Nutrição Comunitária e Saúde Pública