Ucrânia: Zelensky pede à Turquia e ONU que mantenham acordo dos cereais sem a Rússia 1814

O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, pediu esta segunda-feira à ONU e à Turquia para que prorroguem, sem a participação da Rússia, a iniciativa que permite a exportação de cereais ucranianos pelo Mar Negro, após a saída de Moscovo.

“Enviei cartas oficiais ao Presidente da Turquia [Recep Tayyip] Erdogan e ao secretário-geral da ONU, [António] Guterres, com a proposta de continuar a Iniciativa dos Grãos do Mar Negro ou o seu equivalente em formato trilateral”, realçou Zelensky, no seu habitual discurso noturno dirigido à nação.

As autoridades de Kiev pretendem que a comunidade internacional garanta, mesmo sem o acordo de Moscovo, a liberdade de navegação no Mar Negro, violada pelo Exército russo desde que lançou a invasão militar em larga escala da Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022.

“A Ucrânia, a ONU e a Turquia (…) podem garantir em conjunto a funcionalidade do corredor alimentar e a fiscalização dos navios” que até agora permitiam, apesar das limitações impostas pelo lado russo, a saída marítima de cereais ucranianos, apesar das limitações impostas pela invasão russa, acrescentou.

O chefe de Estado ucraniano lembrou que o acordo tem como signatários a Turquia e a ONU e “permanece válido” apesar da recusa da Rússia em prorrogá-lo.

“A única coisa necessária é a sua implementação cuidadosa e uma pressão decisiva do mundo sobre o Estado terrorista”, frisou Zelensky, referindo-se à Rússia, citado pela Lusa.

O Presidente ucraniano recordou que o acordo dos cereais, através do qual a Rússia prometeu em julho de 2023, perante a ONU e a Turquia, permitir a exportação de cereais por três portos ucranianos no Mar Negro, permitiu que 33 milhões de toneladas de produtos agrícolas chegassem a 45 países.

A Rússia declarou no início deste mês que Moscovo não via motivo para estender o acordo e decidiu suspendê-lo sob a alegação de que as sanções que sofre devido à agressão contra a Ucrânia impedem o cumprimento da parte do pacto que também deve garantir as exportações de alimentos russos e fertilizantes.

O acordo expirou às 00:00 desta segunda-feira (22:00 em Lisboa), após o final do prazo estabelecido durante a sua última renovação por dois meses em maio.

A suspensão do acordo por Moscovo mereceu comentários do secretário-geral da ONU, António Guterres, a alertar que centenas de milhões de pessoas vão pagar pela decisão da Rússia de romper com o acordo.

O Presidente da Turquia afirmou, por sua vez, acreditar que o seu homólogo russo, Vladimir Putin, “quer manter” o acordo.

Reino Unido, França e Alemanha, entre outros aliados europeus, também condenaram a suspensão russa dos acordos do Mar Negro, tal como primeiro-ministro português, António Costa, que alertou que a suspensão do acordo de cereais por parte da Rússia é uma “muito má notícia” que pode levar a uma “crise alimentar à escala global”.

Preços podem voltar a aumentar 

O secretário de Estados dos Estados Unidos, Antony Blinken, exortou a Rússia a retomar o acordo que facilitou as exportações de cereais ucranianos no Mar Negro, que Moscovo suspendeu, para evitar novas subidas dos preços.

“Já estamos a ver o o mercado a reagir e os preços a subir. Isso é inconcebível. O acordo deve ser restabelecido o mais rápido possível”, disse o secretário de Estado em conferência de imprensa.

O chefe da diplomacia norte-americana destacou que cerca de 32 milhões de toneladas de alimentos puderam deixar a Ucrânia durante o período em que o acordo de cereais esteve em vigor, desde agosto do ano passado.

Blinken acusou Moscovo de usar a fome como arma e disse estar convencido de que todos os países perceberão que “a Rússia é responsável por matar pessoas famintas em todo o mundo”.

“Isso tem efeitos muito além da Ucrânia e da Rússia. Afeta países em todo o do mundo e milhões de pessoas, que dependem desses cereais. Logo, certamente instamos a Rússia a envolver-se de boa-fé e permitir a passagem livre dos navios” no Mar Negro, declarou noutra conferência de imprensa a vice-porta-voz do Pentágono, Sabrina Singh.

Segundo o porta-voz da Segurança Interna da Casa Branca, John Kirby, a decisão da Rússia é “irresponsável e perigosa”, afetando milhões de pessoas vulneráveis em todo o mundo. “Instamos a Rússia a revogá-la imediatamente”, insistiu.

Kirby observou que os Estados continuarão a trabalhar com seus aliados para tentar retirar os cereais da Ucrânia.

Também o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, condenou no Twitter a decisão da Rússia, apesar dos esforços da Turquia e da ONU.