A Rússia vai retomar a sua participação no acordo sobre as exportações de cereais ucranianos após ter recebido “garantias escritas” da Ucrânia sobre a desmilitarização do corredor utilizado para o seu transporte, anunciou esta quarta-feira o Governo russo.
“A Rússia considera que as garantias recebidas até agora parecem suficientes e retoma a implementação do acordo”, disse o Ministério da Defesa russo na rede social Telegram, citado pela agência francesa AFP e pela Lusa. Moscovo tinha suspendido a sua participação na chamada “Iniciativa do Mar Negro” no sábado, 29 de outubro, após um ataque à sua frota na Crimeia, a península ucraniana que anexou em 2014.
A iniciativa resulta de acordos assinados pelos dois países com a ONU e a Turquia, em Istambul, em 22 de julho, para permitir escoar milhões de toneladas de cereais retidos em portos ucranianos pela guerra desencadeada pela invasão russa, em 24 de fevereiro deste ano. Desde então, o acordo permitiu a exportação de mais de 9,5 milhões de toneladas de cereais, segundo dados da ONU referentes a 30 de outubro.
O processo é supervisionado por um Centro Conjunto de Coordenação (CCC) em Istambul, o porto onde os navios envolvidos são inspecionados para que a Rússia tenha garantias de que só transportam cereais.
O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, confirmou a decisão de Moscovo de voltar a participar na iniciativa. “O ministro da Defesa russo [Serguei] Shoigu contactou o nosso ministro da Defesa [Hulusi] Akar e disse que a partir desta quarta-feira, ao meio-dia, o corredor de cereais continuará a funcionar como antes”, afirmou Erdogan num discurso transmitido em direto no canal turco NTV.
Erdogan não especificou se a hora do reinício do acordo é da Turquia, da Rússia, da Ucrânia ou TMG (a mesma de Lisboa). Na sua comunicação, o Ministério da Defesa da Rússia precisou que as garantias dadas pela Ucrânia se devem à participação da ONU e à contribuição da Turquia. “Em particular, o lado ucraniano garantiu oficialmente que o Corredor do Mar Humanitário será utilizado apenas em conformidade com as disposições da ‘Iniciativa do Mar Negro’”, disse o ministério, citado pela agência espanhola EFE.
A Rússia tinha suspendido o acordo em protesto contra o ataque com drones (aeronaves não tripuladas) à sua frota militar em Sevastopol no sábado passado, mas o CCC manteve as operações até terça-feira, apenas com delegações da Turquia e da ONU. Nenhum navio deixou esta quarta-feira as águas ucranianas ao abrigo do acordo, mas o coordenador da delegação da ONU no CCJ, Amir Abdulla, anunciou, esta manhã, na rede social Twitter que os navios de carga voltarão a navegar na quinta-feira, acrescentou a EFE.
A guerra na Ucrânia causou perturbações no abastecimento dos mercados internacionais de produtos agrícolas, fazendo subir os preços e recear uma situação de escassez alimentar. Em conjunto, segundo a revista britânica The Economist, a Ucrânia e a Rússia forneciam, antes da guerra, 28 por cento do trigo consumido no mundo, 29% da cevada, 15% do milho e 75% do óleo de girassol.