Ucrânia: Erdogan diz que Kiev deve “suavizar a sua posição” sobre acordo dos cereais 1570

O Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou esta segunda-feira (04) que a Ucrânia deve “suavizar a sua posição” relativamente à Iniciativa dos Cereais do Mar Negro e “tomar medidas partilhadas com a Rússia” para que o acordo funcione.

“A Ucrânia deve, é claro, suavizar as suas posições para poder tomar medidas partilhadas com a Rússia”, disse Erdogan durante uma conferência de imprensa conjunta com o seu homólogo russo, Vladimir Putin, na estância balnear russa de Sochi.

O líder turco insistiu que isso deve ser feito sem demoras para que os cereais possam chegar “aos países mais pobres de África”, cita a Lusa.

“Se 40% destes cereais forem enviados para países europeus, é claro que a Rússia não vê isto como algo positivo, e com razão”, acrescentou.

Erdogan especificou que até agora “14%” dos carregamentos foram enviados para a Turquia no âmbito do acordo de cereais e “cerca de 6% para países africanos”.

Ao mesmo tempo, o Presidente turco, que chegou à Rússia precisamente para falar do acordo, abandonado por Moscovo em julho passado, não deu mais detalhes sobre os passos que, na sua opinião, Kiev deve agora tomar para contribuir para o reatamento do entendimento.

A par da ONU, Erdogan foi um dos mediadores do acordo original, conhecido como a Iniciativa do Mar Negro e assinado no verão de 2022 em Istambul, que permitiu à Ucrânia exportar a sua produção de cereais em segurança.

Putin afirmou, por sua vez, que o Ocidente tinha “enganado” a Rússia, alegando fins humanitários do acordo de cereais.

“Das 32,8 milhões de toneladas exportadas da Ucrânia, mais de 70% acabaram nos países ricos, principalmente na União Europeia”, disse o líder do Kremlin.

Segundo Putin, os países necessitados receberam apenas 3% dos cereais que saíram pelos portos ucranianos, ou seja, “menos de um milhão de toneladas”.

O Presidente russo rejeitou firmar um novo acordo para o transporte de cereais através do Mar Negro enquanto o Ocidente não cumprir as exigências de Moscovo.

Putin criticou que o Ocidente continua a “bloquear as exigências russas” sobre o acordo. “Recusam-se a retirar as sanções à exportação dos nossos cereais e fertilizantes, a retomar o fornecimento de máquinas agrícolas e peças sobressalentes”, explicou.

O encontro em Sochi foi o primeiro encontro entre Putin e Erdogan depois de Moscovo ter suspendido o acordo de exportação de cereais através do Mar Negro, argumentando que o “lado russo” não tinha sido respeitado.

Após o encontro com Erdogan, Putin disse que a Rússia está a finalizar um acordo para, nas próximas duas ou três semanas, fornecer gratuitamente cereais a seis países africanos.

O Presidente russo disse que a Rússia fornecerá, “apesar de todos os obstáculos”, cereais gratuitos aos seis países mais pobres do mundo – referindo-se ao Burkina Faso, Zimbabué, Mali, Somália, República Centro-Africana e Eritreia.

Quer também aumentar o fornecimento de um milhão de toneladas de cereais russos a preço preferencial para processamento na Turquia e posterior transporte gratuito para os países mais necessitados, para o que Moscovo e Ancara terão ajuda financeira do Qatar.

Desde o fim do acordo, a Rússia tem bombardeado intensamente os portos do sul da Ucrânia e seus silos de cereais, ao mesmo tempo que Kiev tem procurado rotas alternativas à exportação de produtos, o que merece a oposição de Erdogan.

“As propostas alternativas na agenda não podem oferecer um modelo sustentável e seguro baseado na cooperação entre as partes como a Iniciativa do Mar Negro”, declarou o Presidente turco.

Erdogan especificou que a Turquia está a preparar “um novo conjunto de propostas, em consultas com a ONU” para ressuscitar o acordo, crucial para o abastecimento alimentar global.

Putin alegou, sem fundamentar, que a Ucrânia utilizou o corredor pelo qual transportou os seus cereais através do Mar Negro “para ataques terroristas contra instalações civis e militares russas” e não para fins humanitários.

O líder do Kremlin disse também que a retirada da Rússia do acordo, com uma capacidade de exportação de 60 milhões de toneladas este ano, “não afetou os mercados mundiais de alimentos”, e que o problema não é a “escassez física de alimentos”, mas “a sua distribuição justa”, menorizando o peso da Ucrânia nas exportações mundiais de cereais.

O acordo quadripartido permitia o tráfego marítimo a partir dos portos do sul da Ucrânia que estavam bloqueados pela frota russa na região.

Ucrânia e Rússia estão entre os maiores produtores mundiais de cereais e o abastecimento global foi seriamente afetado pela guerra entre os dois países, em fevereiro do ano passado, com impacto na segurança alimentar nos países mais vulneráveis e uma escalada de preços de bens.