Três universidades portuguesas em consórcio ibérico para o envelhecimento saudável 1186

Três universidades portuguesas – Católica, Minho e Porto – integram um consórcio de investigação ibérico que tem como objetivo trabalhar doenças associadas ao envelhecimento, utilizando a bioengenharia aplicada à engenharia de órgãos e tecidos e à medicina personalizada.

Em entrevista à agência Lusa, Ana Leite Oliveira, investigadora do Centro de Biotecnologia e Química Fina (CBQF) da Universidade Católica Portuguesa no Porto, falou das duas grandes áreas do projeto – engenharia de órgãos e tecidos e a medicina personalizada –, mas também da vontade de aproximação aos órgãos de decisão e entidades reguladoras.

“Vamos tentar criar junto dos órgãos de decisão e das entidades reguladoras alguma interação para que a ciência se aproxime mais da aplicação”, disse Ana Leite Oliveira sobre o IBEROS+, sigla associada ao projeto original e já em curso, o Instituto de Biofabricação em Rede para o Envelhecimento Saudável.

Constituído por mais de 150 investigadores, este consórcio junta 14 entidades público-privadas da região da Galiza, em Espanha, e Norte de Portugal: cinco universidades, cinco centros de investigação e quatro empresas.

Com um financiamento de 2,2 milhões de euros pelo Programa Operacional de Cooperação Transfronteiriça Interreg Espanha-Portugal e co-financiado pelo FEDER, em Portugal são três as Universidades envolvidas: Católica, Minho e Porto. Somam-se as espanholas de Santiago de Compostela e a de Vigo.

Coordenado pela Universidade de Vigo, o consórcio pretende trabalhar doenças associadas ao envelhecimento.

O plano de ação, lê-se num resumo enviado à Lusa, passa por encontrar soluções para a escassez de doações de órgãos e tecidos, pelo desenvolvimento de fármacos de baixo custo e em tempos reduzidos, pelo compromisso ético de reduzir os ensaios em animais e pelo aprofundamento do modelo de medicina personalizada, onde possa ser possível utilizar tecidos organoides biofabricados a partir das células do próprio paciente.

“A biofabricação significa estarmos a introduzir na área da saúde o fabrico, com recurso a moléculas biológicas, sistemas biológicos, para endereçar a diversas doenças. O consórcio não está focado numa doença em particular. São várias doenças que vão ser estudadas através da biofabricação, ou seja, de tecnologias que levam ao desenvolvimento de materiais e terapias que são muito mais biológicas e próximas daquilo que o nosso funcionamento fisiológico”, explicou a investigadora.

Atualmente o grupo está a trabalhar na criação de um Livro Branco sobre biofabricação e engenharia de tecidos que permitirá analisar a situação atual deste setor e estabelecer previsões sobre a sua evolução.

“O objetivo desta publicação é fornecer dados para orientar futuras decisões legislativas, administrativas ou económicas”, disse Ana Leite Oliveira, frisando que o projeto não termina neste consórcio, dado que cada parceiro tem outras parcerias a nível mundial e produz trabalho individualmente, dando ao projeto “um alcance maior do que a própria região”.

“Estamos a trabalhar na fronteira do conhecimento. Aquilo que estamos a fazer está ao mais alto nível daquilo que se faz nesta área. Este Livro Branco não é um ‘report’ que se vai confinar à eurorregião. Vai haver um cuidado de ter um mapeamento global daquilo que são as estratégias para a utilização da biotecnologia”, referiu.

A investigadora também destacou a integração de empresas porque “traz a este consórcio uma visão já muito aplicada do que podem ser os resultados gerais deste projeto”.

Da Galiza, juntaram-se ao consórcio a BFlow, que desenvolve dispositivos de microfluídica capazes de imitar o comportamento de um órgão em laboratório, a Arbinova, que, sob a marca Beta Implants, desenha e fabrica implantes para cirurgia veterinária, e a iBoneLab, especializada em testes pré-clínicos de biomateriais em tecidos vivos.

A empresa portuguesa que integra o consórcio é a ILof-Intelligent Lab on Fiber, uma ‘spin-off’ nascida no INESCTEC e incubada na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto que oferece uma plataforma inteligente para o desenvolvimento de medicamentos personalizados.

O consórcio inclui ainda a Fundación Biomédica Galicia Sur, o Instituto de Investigaciones Marinas del CSIC, o Servizo Galego de Saúde, o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), o Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia e o Instituto Superior de Engenharia do Porto.