“Os médicos chegam sempre atrasados” é uma das frases mais populares em conversas sobre consultas médicas em Portugal. De tal forma que, se alguém tem uma consulta marcada para as 15h, o mais provável é fazer contas para chegar às 15h10 ou 15h15… A falta de pontualidade é um flagelo nacional, algo muitas vezes atribuído ao facto de nas culturas latinas se privilegiar a flexibilidade em detrimento de modelos mais lineares de funcionamento ou relacionamento. No entanto, esta “cultura” tem implicações sérias quando se trata do atendimento clínico em geral, e em particular nas consultas de Nutrição.
Uma das mais importantes questões da falta de pontualidade (seja do utente, seja do nutricionista) na consulta de Nutrição, é a disponibilidade para a mesma. De forma mais marcada que noutras especialidades, a empatia entre nutricionista e utente é fundamental para uma maior adesão às estratégias alimentares definidas. Alguém que teve de esperar mais de 15 minutos pela sua consulta, desenvolverá mais facilmente uma postura de oposição perante quem o vai atender, ferindo a relação empática necessária. Por outro lado, a disponibilidade do nutricionista para um utente que chega atrasado também será menor. O atraso poderá ser sentido como uma subvalorização da consulta ou poderá obrigar a uma consulta mais rápida e sem os cuidados desejáveis. Numa consulta que tem de ser demorada, quer para a recolha e transmissão de informação, quer para a criação de compromissos com o utente, qualquer atraso de uma das partes rouba tempo valioso e compromete o sucesso da intervenção nutricional. Mais, o atraso de apenas uma consulta pode danificar a qualidade de todas as seguintes, uma vez que é difícil recuperar o tempo perdido, gerando-se assim sucessivos atrasos.
Longe vai o tempo em que deixar utentes à espera era sinal de muita procura e prestígio. O tempo é cada vez mais um recurso precioso, tanto para nós, como para os nossos utentes. Eis algumas estratégias simples para evitar os malefícios dos atrasos:
– Programar corretamente os tempos de consulta, salvaguardando a hipótese de consultas mais demoradas. Crianças, pessoas com mobilidade reduzida ou dificuldades auditivas/de expressão, utentes com múltiplas patologias, entre outras, podem precisar de mais tempo de consulta. Não sobrepor horários nem definir tempos de consulta muito reduzidos, cria condições para consultas mais produtivas. Se necessário, definir tempos diferentes conforme o tipo de consulta.
– Chegar antes das consultas. Isto é válido para o nutricionista e para o utente. Se uma consulta está marcada para as 15h, todos devem estar cientes que essa é a hora a que a consulta deve começar, não a hora a que chegam à consulta. Há que contabilizar o tempo para o utente fazer a admissão e o tempo para o nutricionista preparar a consulta.
– Sensibilizar o pessoal administrativo para a importância de confirmar agendas e agilizar os processos de admissão dos utentes. Sensibilizar também os utentes para a importância da pontualidade e de comunicarem antecipadamente a não comparência na consulta.
– Definir tempos máximos de tolerância. Um utente que chega à consulta 5 ou 10 minutos antes do início da consulta seguinte deve compreender que poderá não ser atendido no horário que gostaria, pois iria prejudicar os utentes seguintes.
A pontualidade é uma aliada preciosa do nutricionista. Em prol de consultas melhores, é conveniente que trabalhemos todos para que os atrasos sejam a exceção e não a regra.
Rodrigo Abreu
Nutricionista – Managing Partner na Rodrigo Abreu & Associados
Fundador do Atelier de Nutrição®