As sociedades médicas e as associações de doentes ligadas à obesidade emitiram um comunicado a propósito do Dia Nacional de Luta contra a Obesidade, que se assinala no sábado, a defender que esta doença, que se estima afetar 1,5 milhões de portugueses, tem de ser tratada como crónica e reincidente.
A Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO), a Sociedade Portuguesa de Endocrinologia Diabetes e Metabolismo (SPEDM) e a Associação dos Obesos e Ex-Obesos de Portugal (ADEXO) lembram nesta nota que é urgente que Portugal melhore a forma como é feito o tratamento e a gestão de obesidade.
Estas entidades indicam que há a necessidade de mobilizar mais recursos para garantir a formação especializada dos profissionais de saúde, assim como a criação de um programa de consultas de obesidade nos cuidados de saúde primários, onde se viabilize a comparticipação do tratamento farmacológico da obesidade, e é preciso criar mecanismos de combate ao estigma e discriminação associados a esta doença.
As três entidades, que integram a plataforma “Recalibrar a Balança – por uma resposta holística e equitativa contra a obesidade”, lembram que é necessário “uma mudança urgente”.
Paula Freitas, presidente da SPEO, citada no comunicado, indica que neste momento Portugal tem “uma população mais pobre e mais doente” e que é “importante relembrar a toda a população que perder peso significa ganhar saúde e que o médico pode ser o melhor aliado na luta contra o excesso de peso”.
João Jácome de Castro, presidente da SPEDM, considera que “a obesidade é efetivamente uma doença endócrina. É preciso lembrar que o tecido adiposo está totalmente integrado na regulação do metabolismo e das funções neuroendócrina e imunitária e, por isso, a gestão e tratamento da obesidade têm de envolver profissionais de saúde”.
“É preciso tratar a obesidade antes de tratar as suas consequências, como são a diabetes, a hipertensão ou alguns cancros e temos também de lutar contra o estigma e a discriminação com os quais as pessoas com obesidade vivem diariamente”, defende Carlos Oliveira, presidente da ADEXO.
As sociedades médicas lembram ainda que a Organização Mundial de Saúde estima que haja 650 milhões de adultos a viver com obesidade em todo o mundo, e que em Portugal, segundo o Inquérito Nacional de Saúde 2019, os dados apontam para 1,5 milhões de pessoas.
“A obesidade é um fator de risco para várias comorbilidades: além de aumentar o risco de morte por covid-19, estima-se que aumente o risco até 80% dos casos de diabetes tipo 2, até 35% dos casos de doença cardíaca isquémica, 55% dos casos de hipertensão arterial e 40% dos casos de cancro na Europa”, refere o comunicado.
Já de acordo com a Sociedade Europeia de Endocrinologia, a obesidade está a tornar-se o problema de saúde mais prevalente a nível mundial, com mais de metade dos europeus com excesso de peso ou obesidade.
E tendo estes valores em conta, por ocasião do Dia Mundial da Obesidade, a 4 de março, a Comissão Europeia publicou um documento sobre a prevenção da obesidade e no qual a classifica como doença não transmissível.
“No entanto, não foram tomadas medidas para implementar um tratamento uniforme da obesidade como doença endócrina crónica em toda a Europa. Aliás, na Europa só Portugal, Itália e Holanda classificam a obesidade como doença”, sublinham as associações no comunicado.
Esta doença tem um impacto económico enorme. “Em 2014 estimava-se um custo de 120,6 mil milhões de euros em cuidados de saúde prestados na Europa, associados ao excesso de peso e obesidade, um número que se estima que seja de 197 mil milhões até 2025”.