A Sociedade Portuguesa de Educação Física (SPEF) manifestou preocupação pelo baixo nível de atividade física dos alunos do primeiro ciclo e alerta que a pandemia veio agravar ainda mais o “problema”.
Nuno Seruca Ferro, presidente da SPEF, disse à Lusa que a disciplina de Educação Física “tem alguma estabilidade” desde o segundo ciclo até ao ensino secundário e que é entre os alunos mais novos que a situação é mais preocupante.
“O primeiro ciclo é o grande problema, pois não existe uma ideia do que deve ser feito. Isso é o mais crítico. É uma matéria que está a cargo do professor titular de turma, que leciona todas as áreas do currículo, mas cuja formação de base faz com que se afaste um pouco da Educação Física”, disse o responsável da SPEF.
Nuno Seruca Ferro considerou que a questão é tão mais importante quando se sabe que é nesta fase que se criam hábitos que podem perdurar no futuro.
“Os hábitos de atividade física têm de começar o mais cedo possível e com regularidade. Não podem ser episódicos, com eventos esporádicos. A regularidade e frequência é fundamental para se formarem novos hábitos”, reitera o presidente da SPEF, que lembra que doenças como a diabetes e a obesidade estão a instalar-se cada vez mais entre os jovens, pelo que considera que “o grande desafio é garantir que as identidades oficiais percebam o que está a acontecer”.
Nuno Seruca Ferro destacou os efeitos da pandemia, avançando que “a regressão dos alunos em termos das suas capacidades está em níveis anormais para crianças desta idade” e que “há um trabalho de recuperação que tem de ser feito”.
O presidente da SPEF disse à Lusa que apresentou ao Ministério da Educação um conjunto de preocupações que gostaria de ver englobadas no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), nomeadamente o desenvolvimento de programas desportivos e a existência de infraestruturas para o efeito, admite que “se podia ter ido mais além” e que, “apesar de haver uma crescente preocupação com o desporto, a atividade física, a educação e a saúde, o PRR não tem esse respaldo”.
A SPEF irá promover na quarta-feira uma sessão de disseminação do projeto europeu EuPEO (Observatório Europeu da Educação Física), que pretende fazer a avaliação da qualidade da disciplina de Educação Física em vários países europeus.
“O projeto desenvolveu-se ao longo dos últimos três anos e nesta ocasião faremos a divulgação à comunidade do que foi o seu desenvolvimento para, numa fase posterior, se começar a construir a plataforma”, disse Nuno Seruca Ferro, adiantando que o objetivo passa por “estabelecer, entre todos os países, um conjunto de princípios comuns para a disciplina de Educação Física”.
Concluída esta fase, o projeto passará a um segundo patamar em que será elaborada uma plataforma digital que albergue toda a informação recolhida e que permita a comparação dos países nela integrados.
O EuPEO é um projeto financiado pela Comissão Europeia através do programa Erasmus Plus Sport, em desenvolvimento desde 2018 e coordenado pela Faculdade de Motricidade Humana em parceria com a SPEF.
A parceria colaborativa europeia envolve doze parceiros institucionais de oito países (Portugal, França, Alemanha, República Checa, Hungria, Suíça, Irlanda, Eslovénia), incluindo associações profissionais de professores de educação física e universidades ou centros de investigação, num total de 22 investigadores.
O Projeto serve de estrutura à plataforma do futuro Observatório Europeu de Educação Física, que terá como objetivo promover uma Educação Física de qualidade, assim como o Desporto Escolar e outras formas de atividade física escolar na Europa.