O presidente da Agros, uma das maiores uniões de cooperativas de produtores de leite em Portugal, sediada na Póvoa de Varzim, Porto, alertou que o setor “está a viver uma das maiores crises dos últimos 20 anos”.
Idalino Leão apontou que os custos de produção para os agricultores subiram “na ordem dos 50%”, relacionados com a situação de seca, a guerra na Ucrânia, e a crise no setor da energia, falando em “desânimo devido a condições incomportáveis” para os produtores, cita a Lusa.
“Estou muito preocupado. Esta é a situação de crise mais grave no setor do leiteiro, provavelmente, nos últimos 20 anos. Os preços de produção ligados à agricultura ficaram completamente descontrolados. O custo de produzir um litro de leite subiu na ordem dos 50%. Isso tem levado ao desânimo e ao abandono de muitas explorações”, disse o presidente da Agros à Agência Lusa.
O responsável vai mais longe e admite que caso não sejam tomadas medidas em toda a fileira do setor, e não se concretize mais apoio do Estado, pode “a curto prazo faltar leite nas prateleiras dos consumidores, nomeadamente leite de origem portuguesa”. “O que todo o setor defende é que o preço pago ao produtor suba, acompanhando as tendências do mercado, e que esta subida aconteça também nos outros elos da cadeia [indústria e distribuição], para trazer sustentabilidade toda esta fileira”, analisou Idalino Leão.
O presidente da Agros considera que “será inevitável que o custo para o consumidor final suba” e acredita que a sociedade “vai entender que esse ajuste é necessário”. “Se os preços não subirem para o consumidor, não há forma de conseguirmos compensar os aumentos de custos que os agricultores. Para que todos pensem, costumo lembrar que, atualmente, um litro de leite, que alimenta uma família típica durante um dia, está mais barato do que um café”, exemplificou.
Idalino Leão sente a preocupação do governo com esta matéria, mas insta o executivo a “olhar para a agricultura como um setor estratégico de soberania alimentar”, desafiando a que sejam tomadas medidas de apoio. “Há ações que governo pode e deve fazer, nomeadamente nos custos de energias fixos associados ao nosso setor. Os preços da eletricidade e do gasóleo estão incomportáveis. Em Espanha, por exemplo, há uma diferença de 30 cêntimos no gasóleo. Se não houver essa equidade, pelo menos, na Península Ibérica, será impossível os agricultores portugueses competirem no mercado ibérico”, alertou o líder da Agros.
O responsável lembrou, também, a questão de seca, partilhando que “há já agricultores que não têm alimento nos pastos para os animais, e precisam de ser ajudados”. “A agricultura tem aportado muito para o PIB nacional, é uma atividade que fixa as pessoas nos territórios menos povoados. Mas, para que essa sustentabilidade social e ambiental continue a existir, é preciso que a atividade tenha, também, sustentabilidade económica”, continua.
Todos estes temas serão alvo de debate na iniciativa Agrosemana, a Feira Agrícola do Norte, que depois de dois anos de interregno, devido à pandémica de covid-19, regressa esta quinta-feira, para quatro dias de atividades, no Espaço Agros, na Póvoa de Varzim. O evento tem o objetivo de promover e valorizar o setor agropecuário em Portugal e aproximar o público urbano ao mundo agrícola, dando-lhe a conhecer algumas das práticas do setor.
Nas últimas edições, o espaço, que comporta atividades didáticas, pedagógicas e lúdicas, teve visita de quase 100 mil pessoas, e este ano, no âmbito da responsabilidade social do evento, apoia a Operação Nariz Vermelho, instituição particular de solidariedade social que desenvolve atividades com crianças e familiares hospitalizados.
A AGROS, que tem como atividade a recolha, o transporte e a comercialização de leite a granel nas regiões de Entre Douro e Minho e Trás-os-Montes, e também tem uma vertente industrial através da participação na Lactogal, é uma união de cooperativas do setor que reúne aproximadamente 1000 produtores de Leite.