As redes sociais entraram nas nossas vidas e, rapidamente, ganharam uma importância impossível de ignorar. De um momento para o outro, cada um de nós ganhou o poder de escolher aquilo que pode ser dito ou escrito a nosso próprio respeito. Antes, para “chegarmos” aos outros, era necessário um interlocutor – o jornalista, o meio de comunicação social. Os outros sabiam de nós através de uma entrevista na rádio, um artigo no jornal ou uma presença na televisão. Alguém tinha de reconhecer o nosso valor ou ter interesse no nosso trabalho, era necessária a disponibilidade de um jornalista ou repórter para “validar” esse mérito e, por fim, era preciso tempo e oportunidade para que isso fosse divulgado nos meios de comunicação existentes. Com as redes sociais, todos podemos comunicar o que nos apetecer, sem depender de terceiros para validar a nossa mensagem ou chegar ao mundo inteiro. E se esta realidade tem aspetos positivos, também levanta questões relativas à autenticidade e valor daquilo que é publicado.
Para muitos de nós, as redes sociais tornaram-se uma extensão da nossa vida, uma parte da rotina, e um meio permanentemente disponível, instantâneo (e cada vez mais efémero) para “contar aos outros” o que fazemos. Mas será possível contar ao mundo, através das redes sociais, o valor de tudo aquilo que fazemos? E mesmo sendo possível, até que ponto o devemos fazer? Por exemplo, se hoje, casualmente, prestar auxílio a alguém com quem me cruzei na rua, isso deve ser exposto nas redes sociais? Vou filmar, fotografar ou relatar, para publicar? É “conteúdo”? “Tudo é conteúdo”, oiço frequentemente… Mas, então, será todo o conteúdo publicável? Mesmo pensando apenas no interesse próprio, o que será melhor: ser eu a publicar as minhas conquistas e virtudes, ou serem outros a falar delas por mim? Mais: esta facilidade com que se publica o que se quiser, quando se quiser, não só pode gerar uma ânsia de publicar, como pode conduzir a uma quase inevitável tendência para exacerbar o que se publica. Porque, se a necessidade de publicar é já uma questão séria, a expetativa de receber feedback pode ser realmente problemática. Estão bem relatados os impactos na ansiedade de alguns utilizadores de redes sociais, relacionados com a expetativa em obter “gostos” nas suas publicações. E isto, claro, pode levar a uma necessidade de “parecer”, com pouca ou nenhuma correspondência àquilo que realmente se é. As publicações de férias em locais paradisíacos ou de festas onde todos parecem felizes, são um bom exemplo. Quantas vezes sabemos que tudo aquilo “não é real”, ou, pelo menos, não é bem assim?
Mas não é só no âmbito do lazer que existe uma necessidade de “parecer”. No uso das redes sociais com propósitos profissionais, quantas fotos, vídeos e publicações são “realmente reais”? Exacerbar títulos ou funções (quantos CEO’s de entidades unipessoais conhecemos no LinkedIn?), simular grande atarefamento (sinónimo de muito reconhecimento e procura), aparecer em certos locais (nem que seja como espetador, mas lançando a ideia vaga de que se esteve ou está “lá”), ou surgir, presencial ou virtualmente, junto de certas pessoas (mostrando que se faz parte de certos meios) são comportamentos que vemos frequentemente naqueles que se querem “projetar”. Não sendo “truques” novos, a facilidade com que se podem fazer nas redes sociais, tornou-os uma tentação para muitos, em particular para aqueles que estão mais preocupados em parecer do que em ser. É preciso ter noção que a maior parte das atividades profissionais, e em especial aquelas relacionadas com a Saúde, não é publicável nas redes sociais. As questões de ética associadas à profissão do nutricionista exigem recato e respeito pela privacidade daqueles com quem lidamos – os utentes das consultas não podem ser figurantes da nossa narrativa de sucesso! E os próprios locais e colegas de trabalho, não devem ser expostos publicamente apenas por vaidade ou vontade de mostrar um cenário capaz de impressionar os outros. Tudo isto remete para uma questão de fundo: quando publicamos algo nas redes sociais, estamos interessados em divulgar aquilo que somos e fazemos, ou estamos mais preocupados com o que queremos parecer?