Secas e ondas de calor podem levar a escassez de alimentos e aumento de preços na Europa 995

As secas e ondas de calor triplicaram nos últimos 50 anos na Europa, com uma correspondente redução nas colheitas, especialmente cereais, indica um estudo desenvolvido por três investigadores da Universidade Nova.

O estudo, publicado na revista científica “Environmental Research Letters”, alerta que os efeitos das alterações climáticas nas colheitas podem levar a uma escassez de alimentos e a um aumento de preços.

Teresa Armada Brás, a investigadora que liderou o estudo, explicou à Lusa que, embora existam muitas investigações que demonstram o aumento da frequência de eventos climático extremos, não têm sido tão estudadas as perdas na agricultura associadas a esses eventos.

Os responsáveis, investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT NOVA), a que se juntou um investigador do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático (“Potsdam Institute for Climate Research”, na Alemanha) e da NASA (Estados Unidos), combinaram dados agrícolas e fenómenos climáticos extremos entre 1961 e 2018.

Na análise foram tidas em conta secas, ondas de calor, vagas de frio e cheias. Dividimos o período de estudo em duas partes, uma até 1990 e outra de 1991 a 2018, “e verificamos que as perdas na agricultura são muito maiores na segunda parte”, disse Teresa Armada Brás.

De acordo com o documento, que resultou de um ano e meio de investigação, as secas históricas e as ondas de calor reduziram os rendimentos dos cereais europeus em média em 9% e 7,3%, respetivamente. Nas outras colheitas não cerealíferas os rendimentos diminuíram 3,8, e 3,1% durante os mesmos períodos de secas e de ondas de calor.

As vagas de frio levaram a uma quebra de 1,3% nos rendimentos de cereais e de 2,6% de não cereais, enquanto os impactos das cheias foram marginais e pouco significativos.

Com o título “Severity of drought and heatwave crop losses tripled over the last five decades in Europe”, o estudo incluiu 28 países europeus (atuais da União Europeia e Reino Unido) e conclui que os cereais são a produção mais afetada e que os piores eventos climáticos são as ondas de calor e a seca. Esses dois eventos em 2018 na Europa causaram uma quebra de 08% na produção de cereais, comparando com os cinco anos anteriores.

Salientando que os números resultam dos dados reportados oficialmente, a responsável acrescenta que “o sistema alimentar tem sido prejudicado com a ocorrência de fenómenos climáticos extremos”, alertando ainda para projeções do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC na sigla original) que apontam para um aumento dos períodos de seca no verão, com ondas de calor mais longas e intensas.

“O trabalho alerta para a necessidade de perceber quais as culturas mais resilientes para a Europa e realça a necessidade do uso inteligente da água”, sendo necessário dados “cada vez mais detalhados para uma definição de políticas agrícolas mais estratégicas”, diz.

Além de Teresa Armada Brás participaram no trabalho os investigadores da FCT NOVA Júlia Seixa e Nuno Carvalhais, e o investigador Jonas Jägermey.