“Se conseguir manter um idoso nutrido e hidratado, este terá um envelhecimento saudável” 190

Numa “população de extremos”, onde o risco de subnutrição e o excesso de peso atingem percentagens muito elevadas, as abordagens têm de ser particularmente cuidadosas.

Quando se fala em intervenção no idoso, “é preciso ter muito cuidado com a forma como dizemos que as necessidades energéticas são inferiores às de um adulto, para não alimentar crenças enraizadas socialmente e que ‘justificam’ a baixa ingestão alimentar e a desnutrição que facilmente ocorre nesta população”.

A nutricionista Liliana Ferreira explica que “com o processo de envelhecimento, ocorre uma diminuição da taxa metabólica basal e do gasto energético diário, muito associadas às alterações da composição corporal (diminuição da massa muscular e aumento da massa gorda) e à maior inatividade física”. Mas, “ao mesmo tempo, podem ocorrer muitos quadros no idoso que conduzem a um aumento das necessidades energéticas e nutricionais, como sejam quadros patológicos, desnutrição, estados inflamatórios e/ou infeciosos, efeitos de medicação. Pensemos desta forma: eu posso ter um idoso com 90 anos, acamado, que, em teoria, necessitaria de menos energia do que um adulto para se manter vivo; mas se esse idoso tiver uma neoplasia, três úlceras por pressão e uma infeção ativa, as necessidades energéticas disparam e esta teoria do ‘está acamado, não gasta nada’, cai imediatamente por terra”.

“É preciso explicar isto às equipas: pode não ser um gasto energético visível, mas está lá e tem tanta ou mais importância do que o gasto energético associado ao andar. Na minha prática diária em respostas sociais destinadas à população idosa, era muito comum ouvir frases como ‘ele está deitado numa cama, mal precisa de comer’ ou ‘só se mexe da cama para o sofá, pode ficar bem só com uma sopa à noite’. Isto está muito enraizado e justifica muitas práticas menos corretas que ainda se perpetuam nos vários tipos de respostas”, refere. Os profissionais de saúde “nem sempre contribuem para desmistificar estas questões. É algo que deve continuar a ser assunto e a ser falado continuamente, para um dia conseguirmos inverter esta linha de pensamento”.

Quanto às necessidades proteicas, elas “são superiores às do adulto”. Para um adulto saudável, “habitualmente vemos recomendações na ordem das 0,8 a 1gr/kg/dia; no idoso, as guidelines mais recentes indicam-nos uma ingestão mínima de proteína de 1gr/kg/dia, sendo que este valor deve ser ajustado consoante o estado nutricional, o nível de atividade física, os quadros de patologia e a tolerância do próprio idoso”.

Nesta faixa etária, “não é incomum encontrarmos recomendações de 1,5 a 2gr/kg/dia (ou até valores superiores), quando estamos perante situações de desnutrição, doenças crónicas, estados inflamatórios e/ou infeciosos ou quadros de feridas e úlceras por pressão”.

Como determinante essencial na saúde e qualidade de vida do indivíduo e como parte integrante e fulcral na prevenção e promoção da saúde e tratamento da doença, “a nutrição assume um papel que deveria ser bem mais valorizado do que atualmente o é pela sociedade em geral e mesmo por vários profissionais de saúde”, defende a especialista. “Se eu conseguir manter um idoso bem nutrido e hidratado, este idoso terá sem dúvida um envelhecimento muito mais saudável e ativo, por não se instalarem défices nutricionais e/ou perdas de massas que possam condicionar a mobilidade, as atividades de vida diárias e o estado de saúde em todas as suas vertentes — física, mental e social”.

“Estratégias de intervenção não podem ser idênticas às da idade adulta” é um dos artigos especiais da última edição da revista VIVER SAUDÁVEL, afeta aos meses de setembro e outubro, já disponível. Saiba mais acerca desta temática na Revista dos Nutricionistas.