Saúde para todos e escolhas criteriosas 637

O dia 7 de abril foi o escolhido para celebrar o Dia Mundial da Saúde. Este ano o mote para este dia, escolhido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), foi Saúde para todos.

A OMS foi fundada há 75 anos com o objetivo de promover a saúde e garantir que todos têm acesso aos melhores cuidados de saúde e bem-estar. Ao compararmos a realidade atual, com a situação existente no momento da fundação da OMS, não podemos deixar de festejar as vitórias alcançadas. Este percurso deve também tornar-nos cada vez mais exigentes, com a habilidade de nos adaptarmos a novos desafios.

A literacia em saúde é um pilar fundamental para promover o bem-estar. A facilidade atual de acesso a informação, aumenta a responsabilidade de todos perante as decisões que se tomam. Temos, contudo, que saber reconhecer quais as fontes de conhecimento mais e menos fidedignas, saber a quem recorrer perante hipotéticas dúvidas ou para discussão da informação obtida. Uma população bem informada sabe exigir os cuidados corretos que lhe devem ser prestados e sabe também onde e quando recorrer para que estes cuidados sejam os mais eficazes. Uma população bem informada sabe distinguir entre situações que carecem de uma avaliação urgente, de situações, que embora importantes, podem ser resolvidas de uma outra forma. Uma população bem informada sabe fazer escolhas que promovem a saúde e o bem-estar, prevenindo doença e ajudando no tratamento de doenças já estabelecidas.

A Medicina Interna pautando-se por robustez científica, abrangência e capacidade de adaptação é um dos elos fundamentais entre o doente e o conhecimento.

Garantir que todos temos acesso a cuidados de saúde não quer dizer que todos devamos fazer as mesmas escolhas, sendo que o que é necessário a um, não é, obrigatoriamente, necessário a outro. Um elevado número de exames, ou a realização de exames de elevada complexidade, não está diretamente relacionado com a qualidade dos cuidados que recebemos. A realização de exames desnecessários expõe-nos a potenciais riscos como a ansiedade gerada por suspeita de doença, que posteriormente não se confirma. Estas suspeitas que podem surgir num exame que um indivíduo saudável e assintomático realiza sem qualquer justificação clínica, muitas vezes dão origem a uma cascata de outros exames e intervenções, nenhuma isenta de riscos, para se conseguir desconstruir esta hipótese de doença. Garantir que há cuidados de Saúde para todos, passa também por saber adequar os exames a cada situação. Uma observação médica que não resulte na prescrição de exames ou tratamentos é, frequentemente, conotada pelo doente como de menor qualidade. A vontade de realizar exames, apesar da ausência de justificação para os fazer, é difícil de contrariar. Literacia em saúde é também desmistificar esta ideia e garantir que os exames e tratamentos necessários, são corretamente disponibilizados a quem deles necessita.

Em 2012 surgiu, nos Estados Unidos da América (EUA) um programa de Educação para a Saúde designado por Choosing Wisely, criado pela American Board of Internal Medicine. Em português este programa designa-se por Escolhas Criteriosas em Saúde e tem como principal objetivo promover escolhas em Saúde baseadas na melhor evidência científica disponível, promovendo a utilização adequada de exames complementares de diagnóstico e reduzindo o número de intervenções desnecessárias, sem eficácia/evidência comprovada e/ou com uma relação risco-benefício desfavorável. Este programa é uma iniciativa centrada no doente, que pretende a melhoria da qualidade dos serviços de saúde, a prevenção da ocorrência de dano e a promoção da discussão científica sobre as decisões mais corretas para rastrear, estudar e tratar determinadas situações. A uniformização de procedimentos levará à otimização da comunicação entre doentes e profissionais de saúde, promovendo a tomada de decisões informadas e partilhadas.

Saúde para todos, implica que todos trabalhemos juntos, implica também fazer escolhas que promovam uma vida saudável, procurar informação credível que nos ajude a tomar decisões e exigir os cuidados mais corretos e adequados.

Catarina Canha – Sociedade Portuguesa Medicina Interna