Representantes da cadeia agroalimentar, como produção, indústria e distribuição, realçaram esta terça-feira (21) o aumento dos custos resultantes da guerra da Ucrânia e da crise energética, que originaram subidas de preços, apoiando estudos às margens de lucro do setor.
Numa audição na Assembleia da República, a requerimento do grupo parlamentar do PSD, responsáveis de associações representativas de produtores e de empresas de transformação e de distribuição, discutiram os aumentos dos preços no setor, numa altura em que o cabaz alimentar, definido pela Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) para calcular a evolução dos valores, aumentou quase 29% desde 2022 e até fevereiro deste ano para 96,44 euros.
Pela Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), Luís Brás destacou as “consequências impactantes” da crise energética exacerbada pela guerra da Ucrânia para o setor, dado que a “energia é usada em toda a cadeia de valor”, nomeadamente na refrigeração e em lojas, cita a Lusa.
Aludindo às recentes ações de fiscalização da ASAE, Luís Brás disse saudar as iniciativas “em termos da evolução dos preços no terreno”, mas criticou “medidas que não permitam ter a perceção sobre a cadeia de valor”, dado que “é preciso ver qual a margem de lucro e o seu valor final”. Assim, o responsável da CCP sugeriu a realização de um “estudo feito por uma entidade independente” sobre as margens de lucro, mas que “não seja apenas uma análise casuística”.
Também o vice-presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), Jorge Henriques, destacou os “aumentos astronómicos que não se devem alterar nos próximos tempos” em matérias-primas como o vidro, plástico, cartão e metal, apontando que esta situação “levou a aumentos nos contratos acima de 50%”.
Igualmente intervindo na ocasião, o presidente da Federação das Indústrias Portuguesas Agroalimentares (FIPA), Jorge Tomás Henriques, observou que “os perfis de consumo estão a mudar de forma radical”, já que “as pessoas estão à procura de produtos mais baratos e a comprar menos”. Ainda assim, defendeu que “a situação, que não é benéfica, tem de ser encarada com verdade”.
Já o diretor-geral da Centromarca, Pedro Pimentel, apontou que a “inflação, apesar de não ser um problema português, penaliza todos, a começar pelos consumidores, mas também os elos da indústria” portuguesa.
Contudo, Pedro Pimentel salientou que “especulação e inflação são coisas muito diferentes”, rejeitando “confundir margens brutas e líquidas” e defendendo mais “regulação sem ser intrusiva” para as marcas próprias dos supermercados.
Também o diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), Gonçalo Lobo Xavier, lamentou a “discussão lançada de forma desajustada e injusta por parte da ASAE”, que “lançou a confusão junto dos consumidores” e “chamou à coação todos os intervenientes na cadeia de valor”, provocando um “dano reputacional absolutamente inaceitável” para o retalho alimentar. “Não se pode lançar suspeitas de más práticas quando há uma monitorização enorme”, disse.
Do lado dos produtores, o presidente da Confederação dos Agricultores Portugueses (CAP), Eduardo Oliveira e Sousa, assinalou o “desfasamento muito grande entre o momento em que se inicia a produção de um qualquer produto agrícola até ao momento em que é adquirido pelo consumidor”, referindo haver atualmente uma “estabilização dos preços [de produção] em alta pela incorporação da energia, principalmente do gás” e por contextos como o de seca.
Da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), José Miguel Pacheco destacou o “aumento brutal dos custos de produção, primeiro pela procura pós-pandemia e depois devido à guerra”, que foram de 48% num espaço de um ano.
Mesmo assim, segundo o responsável, “a situação no comércio a retalho preocupa e não é normal nem aceitável” dada a “hegemonia e domínio” de grandes cadeias em detrimento do comércio local.
O secretário-geral adjunto da Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (Confagri), Nuno Serra, adiantou que o facto de haver “menos produção e aumento dos custos” levou a “alteração do padrão de consumo”, que a seu deve ser invertida com menor carga fiscal e com apoios aos produtores.