Psicologia-Nutrição: Aliados no tratamento das Perturbações do Comportamento Alimentar (Parte II) 17652

As Perturbações do Comportamento Alimentar (PCA) são patologias complexas que requerem uma intervenção especializada de profissionais de disciplinas distintas. Entre eles, surgem os psicólogos e os nutricionistas, cuja aliança deve ser ampla. Durante o tratamento, estes profissionais devem comunicar regularmente, trabalhando enquanto equipa unificada pela confiança e consideração na intervenção mútua.

Neste contexto, ambos podem aceder à real capacidade que o sujeito possui de se nutrir adequadamente, nomeadamente, através da análise do padrão alimentar – seja através da partilha verbal, como escrita em diários alimentares. A seu tempo e conforme as habilitações, os profissionais deverão ensinar os clientes a respeitar as suas pistas internas, aliando-se a informações nutricionais objetivas e práticas e a dissolver e/ou substituir a perspetiva distorcida acerca da alimentação.

A colaboração permite aos psicólogos planear as consultas sem a gestão nutricional e evita o confronto com pacientes que detenham saber nutricional mais sofisticado, dado que estes sujeitos tendem a ser bastante instruídos na área da nutrição. No entanto, esse conhecimento surge distorcido, devendo auxiliar-se o sujeito a confrontar-se com tais pensamentos enraizados e falaciosos. Na verdade, não obstante os restantes tópicos específicos de cada classe profissional, ambos poderão focalizar conteúdos e/ou comportamentos relacionados com a alimentação, a prática de exercício físico e preocupações relativas ao peso.

A aliança entre o nutricionista e o psicólogo deve ser mediada de forma a que nenhuma responsabilidade seja deslocada de um para o outro, dado que as componentes psicológicas e físicas do tratamento não devem (nem podem) ser divorciadas. Particularizando, o psicólogo não deve transferir a integridade dos tópicos da alimentação e peso para o nutricionista, até porque discutir essas temáticas poderá despontar material que peça retificação. De facto, os psicólogos devem falar abertamente com os seus clientes sobre o seu peso e sobre os comportamentos patológicos visto que o seu evitamento pode prolongar ou intensificar o seu padrão disfuncional de pensamento e afetos negativos.

É de salvaguardar que, dado os nutricionistas serem procurados muitas vezes previamente à busca de terapia psicológica, se aconselha a que estes possuam contactos de referência de psicólogos e médicos com formação e prática em PCA.

De forma geral, apesar da abrangência do conceito, a “alimentação intuitiva” deverá ser o objetivo; o que implica que o sujeito respeite a forma natural do corpo reagir à comida, sem preocupação excessiva com o seu peso ou limites do plano alimentar. Todavia, sobretudo em fases primordiais, o sujeito poderá não estar capacitado para isso, uma vez que é usual não estar sincronizado com as necessidades e desejos do seu corpo e os sinais de fome e saciedade. Mais, em certos casos (e.g., pacientes recentes, pacientes clinicamente comprometidos, sujeitos com historial de trauma), o indivíduo poderá não estar apto a escutar o seu corpo pelo que não se aconselha esta estratégia; nomeadamente, quando é requerido aumento de peso que causa desconforto e distress. De facto, respeitar a sua intuição nesses períodos, pode levar o sujeito a conservar ou espoletar comportamentos alimentares patológicos (e.g., restrição, comer e provocar o vómito).

Em suma, consoante as competências, formação e experiência de cada profissional, é fulcral que se confrontem os pensamentos mágicos, a rigidez mental, as distorções e o conhecimento falacioso do indivíduo com PCA para o auxiliar a ser capaz de lhes doar significados mais adaptativos. Como tal, pode antever-se que, no seguimento do estabelecimento de uma relação de confiança, tanto os psicólogos como os nutricionistas poderão doar ao indivíduo uma maneira alternativa de existir no mundo e de se relacionar com a comida e a alimentação.

João Romeiro
Psicólogo Clínico