24 de Novembro de 2016 O tempo de espera médio para colonoscopias no Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE) para doentes com suspeitas de cancro colorretal desceu de 180 para 76 dias, este ano, graças a um projeto com centros de saúde. O projeto “Prioridade à vida no cancro colorretal” quer melhorar o acompanhamento do doente, desde o diagnóstico até ao tratamento, e junta a unidade hospitalar e o Agrupamento de Centros de Saúde do Alentejo Central (ACES AC), no distrito de Évora. Neste âmbito, segundo a médica Fátima Breia, do ACES AC, foi criada uma lista, com os sintomas e sinais do doente e a sua história pessoal e familiar, que os clínicos dos centros de saúde preenchem e enviam para o HESE, quando pedem a colonoscopia, avançou a agência “Lusa”. Esta folha, uma espécie de “checklist”, permitiu ao Serviço de Gastroenterologia hospitalar passar a «priorizar os doentes mais urgentes para o exame», indicou. «Antes, os pedidos eram organizados por ordem de entrada», mas, com a nova folha, «quando os pedidos chegam, os médicos do hospital já conseguem ver quais os exames que têm de ser realizados mais cedo», o que torna «mais rápido diagnosticar o doente e intervir», salientou. Os resultados dos primeiros nove meses do projeto, a divulgar em Lisboa, na quinta-feira, mostram já «diversos ganhos» em saúde. O tempo médio de espera para os exames, revelou a clínica, “baixou de seis meses, e nestes seis meses tanto estavam doentes mais graves como menos graves, para 76 dias”, tendo “algumas colonoscopias até sido feitas em menos tempo, em 12 dias”. Fátima Breia, que é também médica na Unidade de Saúde Familiar (USF) Foral, em Montemor-o-Novo, disse que, das 450 colonoscopias efetuadas pelo HESE por solicitação das unidades de cuidados de saúde primários, «106, ou seja, 25%, foram acompanhadas pela folha». Destas 106, continuou, «43 doentes foram considerados com necessidade de prioridade no exame» e «em 19% foram identificados tumores», sendo que, «nas outras 63, só houve tumor em 5%» dos casos. Esta diferença, observou, «já mostra que o preenchimento da checklist permite, com segurança, priorizar os doentes e pô-los a fazer o exame mais cedo». O diretor do Serviço de Cirurgia do HESE, Jorge Caravana, destacou à “Lusa” que, ao ser atribuído um grau de prioridade aos doentes, «além de se conseguir baixar para metade o tempo médio de espera» das colonoscopias, foi possível «fazer um grande número de diagnósticos positivos, de cancro ou de pré-cancro». «Conseguimos ser mais certeiros nos doentes que precisamos de ver com urgência e intervimos mais rapidamente. Sabemos, por exemplo, que todos os pólipos (lesões pré-malignas) vêm a ser cancro, mas, se os tirarmos precocemente, evitamos cirurgias de urgência e impedimos que aquele doente venha a ter cancro», salientou. Assim, «evita-se sofrimento para o doente e, do ponto de vista económico, também se economiza», realçou o médico, defendendo ser necessária, agora, «uma adesão muito grande dos médicos de família», porque esta «tem acontecido lentamente», e o alargamento do preenchimento da folha «a outros agrupamentos de centros de Saúde». «Temos uma boa resposta, mas precisamos que todos os clínicos de família nos mandem a lista preenchida», disse. O projeto, acentuou, «é muito importante» no Alentejo, região portuguesa que, tal como em Trás-os-Montes, tem «uma prevalência mais elevada de cancro colorretal», o que, provavelmente, «se deve ao tipo de alimentação», com mais consumo de “carnes fumadas e vermelhas e poucos legumes». A divulgação dos resultados do projeto, até final de setembro, vai acontecer numa conferência promovida pela Novartis, que apoia a iniciativa, sobre boas práticas de governação clínica. |