Problemas emocionais e comportamentais estão na base de uma alimentação excessiva 987

As Universidades Católica e do Minho levaram a cabo uma investigação sobre os problemas na alimentação e suas questões emocionais e comportamentais em crianças e adolescentes. O estudo foi publicado na revista Journal of Child and Family Studies, e teve como intuito ajudar pais e educadores, mas também conseguir fazer um prognóstico da doença.

“Os problemas emocionais e comportamentais que estão na base deste problema – alimentação restritiva e alimentação excessiva em crianças e adolescentes – e a relação que existe entre comportamentos alimentares e os problemas emocionais foram os principais focos da investigação, indicou à Lusa, Bárbara César Machado, uma das autoras do trabalho.

A realização do estudo foi também motivada para compreender os problemas da alimentação e da ingestão considerando a perceção dos pais e professores.

A investigação centrou-se na avaliação de um conjunto diversificado de problemas emocionais e comportamentais, incluindo a presença de picky eating (alimentação restritiva) e overeating (alimentação excessiva), em crianças e adolescentes com idades compreendidas entre os seis e os 18 anos, numa amostra total de 2.687 jovens.

Para além das crianças, esta avaliação contou com a colaboração de pais, professores e dos próprios jovens, considerando a perspetiva de cada um.

“Há poucos estudos que combinem a avaliação do picky eating e do overeating em populações não-clínicas em idade escolar (6-18 anos), sobretudo se se procurar relacionar aqueles comportamentos alimentares com a coocorrência de problemas emocionais e comportamentais”, explicou Bárbara César Machado.

A investigadora considerou ainda que “existem vantagens na compreensão destes comportamentos numa moldura que enquadre os diversos aspetos do funcionamento comportamental, emocional e social das crianças e adolescentes, quer do ponto de vista adaptativo, quer desadaptativo, para além de também serem consideradas as competências das crianças e adolescentes (sociais, escolares e relacionadas com as atividades que desenvolvem)”.

O estudo revelou que a alimentação restritiva foi identificada em 23,1% dos participantes, sendo esta mais comum nas crianças mais novas. Já a alimentação excessiva foi identificada em 24% dos participantes, sendo mais comum nas crianças mais velhas, com nível socioeconómico mais baixo e com excesso de peso.

Os resultados evidenciaram também que tanto o picky eating como o overeating estão associados à presença de um conjunto diversificado de problemas emocionais e comportamentais nas crianças e adolescentes.

A investigação mostrou a “possibilidade de um padrão mais vasto de problemas emocionais e comportamentais, potencialmente desadaptativos, poderem estar associados à presença de picky eating e de overeating“, indicou Bárbara César Machado.

O estudo concluiu a necessidade de haver um olhar integrador sobre as crianças e adolescentes, e compreender o terreno favorável para a emergência de problemas da ingestão e alimentação, ao longo das diferentes etapas de desenvolvimento do seu crescimento.

Esta análise será feita, segundo a investigadora e autora do estudo, “através do Sistema de Avaliação Empiricamente Validado (ASEBA), somos capazes de avaliar o picky eating e o overeating, podendo ajudar a contribuir para o prognóstico, curso e evolução de comportamentos que podem ser transitórios ou, pelo contrário, ter uma duração mais prolongada”, concluiu Bárbara César Machado.

O trabalho denominado por “Frequency and Correlates of Picky Eating And Overeating in School-aged Children: A Portuguese Population-based Study“, foi desenvolvido por docentes da Faculdade de Educação e Psicologia da Católica no Porto e investigadores do Centro de Investigação para o Desenvolvimento Humano (CEDH).

Bárbara César Machado, Pedro Dias, Vânia Sousa Lima e Alexandra Carneiro, em coautoria com Sónia Gonçalves (investigadora do GEPA, Unidade de Investigação em Psicoterapia e Psicopatologia do CIPsi – Escola de Psicologia, Universidade do Minho), foram os autores desta investigação.

Pode consultar o estudo aqui.