O Hospital de São João (HSJ), no Porto, abre esta segunda-feira o Banco de Leite Humano do Norte, um equipamento para “salvar vidas de bebés doentes” que viverá da “generosidade” das mães dadoras, disse a diretora clínica.
Em declarações à agência Lusa, reiterando que o objetivo do projeto lançado pelo Centro Hospitalar e Universitário São João (CHUSJ) é de chegar a toda a região, Maria João Baptista descreveu o funcionamento de um banco de leite humano que, em Portugal, só tem paralelo no instalado na Maternidade Alfredo da Costa (MAC), em Lisboa.
“O Banco de Leite Humano do Norte tem a sua sede física aqui [Hospital de São João] e o investimento foi daqui, mas destina-se a toda a região. O objetivo é que todos os hospitais do Norte tenham a possibilidade de recorrer ao banco de leite do HSJ se tiverem um recém-nascido ou um bebé doente que necessite de leite humano”, disse a diretora clínica do CHUSJ.
Este equipamento – que abre oficialmente segunda-feira mas já tem dadoras inscritas – nasce da requalificação da copa de leite do HSJ, local onde é preparada a alimentação de bebés que não estão a ser amamentados.
O investimento do CHUSJ rondou meio milhão de euros.
A equipa do Banco de Leite Humano do Norte junta farmacêuticos, especialistas em patologia clínica, nutricionistas, entre outros profissionais e técnicos.
Maria João Baptista destacou que o processo de doação, conservação, processamento e utilização do leite é muito auditado, “um processo que pauta por estar assegurada a segurança microbiológica do leite”.
“Quando o leite chega ao hospital congelado é armazenado em máquinas de frio. Depois é testado em termos microbiológicos e, se estiver em condições, é pasteurizado e distribuído para os serviços de neonatologia que dele necessitem”, descreveu.
Antes, o processo inicia-se com a recolha, em casa, de leite por parte das mães dadoras, mães que são avaliadas e fazem análises para se perceber se as suas condições de saúde permitem que esta doe leite e que esse leite é seguro para os outros bebés que estão doentes.
O armazenamento de leite é feito em casa, mas o hospital, acrescentou a diretora, procura garantir que a dadora tem condições ideais para armazenar e existe uma equipa que vai ao domicílio para apoiar e esclarecer dúvidas, bem como recolher o leite.
Lembrando que projetos como estes “existem em todo o mundo” e que até “na antiguidade existia já o conceito das amas-de-leite” que eram as mulheres que amamentavam os outros bebés da comunidade, a diretora clínica do CHUSJ especificou que podem ser dadoras mães que tenham bebés saudáveis, que tenham leite suficiente para amamentar o seu bebé, tendo excedente de leite.
Devem ser mães com bebés com menos de seis meses por causa da qualidade do leite que tem de ser adequada a um bebé recém-nascido.
“A vontade de ser dadora é muito dependente do sentimento de generosidade e de altruísmo de cada um, mas já temos dadoras e manifestações de vontade até durante a gravidez. Em causa está ajudar mães que têm bebés que estão doentes. Acredito que as mães portuguesas têm aquela generosidade habitual dos povos latinos”, disse Maria João Baptista.
Podem beneficiar deste leite doado bebés prematuros, cujas mães não estão biologicamente preparadas para amamentar, ou seja, devido à antecipação da chegada dos filhos ainda não tenham leite materno ou até o tenham mas não em quantidade suficiente.
Também beneficiam deste projeto bebés internados por longos períodos nos serviços de neonatologia após, por exemplo, cirurgias longas ou recobros demorados, cujas mães até tinham leite, mas esse acabou durante o processo de recuperação do filho.
“O leite materno [da própria mãe] para todo e qualquer bebé, e muito mais para um bebé prematuro, é sem dúvida alguma o mais indicado para o desenvolvimento. Mas está cientificamente provado que na ausência de leite materno, se conseguirmos dar leite humano de dadoras, esse leite é seguro e a melhor alternativa porque confere benefícios”, descreveu a médica.
Entre os benefícios estão conseguir que o bebé seja alimentado mais cedo, isto é, conseguir alimentar o bebé pelo trato digestivo, em alternativa a usar soros e alimentações administradas nas veias.
Maria João Baptista também recordou que o leite humano é, face à fórmula comercial, um leite mais bem tolerado pelo bebé, sobretudo por um prematuro, e que este leite confere imunidade.
“Os estudos demonstram que os bebés que são alimentados por leite humano têm um perfil cardiovascular melhor do que os que são alimentados por fórmula comercial. Há benefícios a longo prazo”, concluiu.
Já na informação publicada no ‘site’ do CHUSJ lê-se que “todos os bebés, em particular os mais frágeis, deveriam ter disponíveis as melhores condições de atendimento para a promoção da sua saúde e sobrevivência” e recordado que “quando não se dispõe de leite materno, o leite de dadora é a primeira alternativa”.
Segundo Maria João Baptista, o CHUSJ desenvolveu este projeto após muitos contactos com colegas da MAC, em Lisboa, e paralelamente este centro hospitalar está a trabalhar “em grande colaboração” com o Centro Materno Infantil do Norte (CMIN) equipamento do Centro Hospitalar e Universitário do Porto.