A monitorização remota de pessoas com diabetes à distância foi um dos três projetos distinguidos na passada quinta-feira pelos Prémios de Investigação Alfredo da Silva. O projeto da equipa de João Filipe Raposo, da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP) e da Universidade Nova de Lisboa, foi distinguido na categoria Sustentabilidade em Saúde, dispondo agora de 25 mil euros para apostar na criação de um kit de proteção para pessoas com diabetes e cuidadores.
“Este projeto, que vai decorrer nos próximos três anos, tem como objetivo criar um kit com um penso inteligente que contém sensores para monitorizar a temperatura e as úlceras e ainda um novo sensor que facilite a medição de marcadores inflamatórios”, revela João Filipe Raposo, diretor clínico da APDP.
Em Portugal, estima-se que existam mais de um milhão de pessoas com diabetes diagnosticada ou por diagnosticar. Já a nível mundial, estima-se que até 2030 o número de pessoas com diabetes passe de 537 milhões (2021) para 643 milhões1. “E a previsão para 2045 é ainda mais assustadora, com o valor a chegar aos 783 milhões”, refere João Filipe Raposo.
Estudos existentes indicam ainda que 15% dos doentes irão desenvolver úlceras de pé diabético, que são propensas a desenvolverem infeção. Isto poderá resultar na necessidade de amputação do membro, que aumenta de 50 para 80% a mortalidade a cinco anos2,3.
“Esta condição é responsável por mais internamentos hospitalares do que quaisquer outras complicações a longo prazo”, explica o médico, acrescentando: “Além do stress emocional, tem um peso económico considerável, exercendo uma pressão também avultada sobre os sistemas de saúde”.
O projeto tem como objetivo diminuir esse fardo. Para o fazer, a investigação leva mais além as ligaduras e os pensos inteligentes que têm vindo a ser desenvolvidos nos últimos anos e apresenta o kit de proteção para pessoas com diabetes e cuidadores como solução.
“Este projeto é o trampolim para o desenvolvimento de ligaduras verdadeiramente sustentáveis e inteligentes para monitorização das úlceras do pé diabético. No final do projeto, a equipa terá conhecimento e experiência suficientes para desenvolver um kit de ferramentas para capacitação do doente e monitorização e acompanhamento das úlceras. O objetivo final é melhorar a qualidade de vida dos afetados e reduzir a carga sobre os sistemas de saúde”, remata. Este kit de ferramentas incluirá ligaduras com sensores embutidos para controlo de temperatura e avaliação do tamanho da ferida e sensores óticos baseados em papel de uso único para monitorização da Proteína C reativa (PCR), biomarcador que pode circular na corrente sanguínea em níveis anormais.
Através de três categorias de prémios (Alfredo da Silva e o Empreendedorismo, Inovação Tecnológica, Mobilidade e Indústria e Sustentabilidade em Saúde), a Fundação Amélia de Mello destaca os três projetos mais inovadores e que mais contribuam para áreas chave. Os vencedores da segunda edição dos Prémios de Investigação Alfredo da Silva levam para casa 25 mil euros para desenvolverem a investigação.