Precisamos de medidas que apoiem a nossa população.
Os suplementos nutricionais orais destinam-se a uma alimentação especial, com fins medicinais específicos e com o propósito de satisfazer as necessidades nutricionais de quem não consegue obter através da alimentação habitual. Têm o benefício óbvio de ganho de peso e de ganho de massa muscular, evitando as complicações associadas à malnutrição (como a perda de força muscular, a perda de qualidade de vida e internamento hospitalar). Portanto, é importante perceber, desde início, que estes produtos têm fins medicinais específicos, e não para são para a população em geral.
Na maioria dos países da Europa, onde estes produtos são comparticipados (em alguns casos a 100 por cento), é mais fácil compreender que se destinam a situações específicas de doença. A título de curiosidade, a nossa vizinha Espanha já comparticipa estes produtos desde o século passado, pelo menos há 21 anos.
Nos casos de doença, como por exemplo as oncológicas, os utentes chegam às consultas desnutridos, muitas vezes consequência do tratamento a que são submetidos, com uma diminuição acentuada do apetite e perda de peso. Tudo isto, levará a um impacto negativo no prognóstico da doença.
Mas, imaginemos agora o exemplo de um idoso, com uma reforma de 200 euros (e ainda há quem receba menos) e com um peso muito baixo, submetido a tratamentos invasivos, e que necessita urgentemente de aumentar o seu aporte em nutrientes. Quando lhe é dito que um pacote de 4 embalagens de um suplemento energético proteico custa 18 euros, (mas que nem serve para cobrir as suas necessidades durante uma semana, quanto mais fazer nas 4 semanas do mês, em que o preço andaria em média nos 72euros) o que acham que a pessoa faria? É simples. Não compraria. Porque precisa do dinheiro para pagar as suas contas. Uma triste, mas frequente, situação com que nos deparamos em contexto clínico.
Uma das grandes lacunas em Portugal é a ausência de suporte legal para intervenções nutricionais entéricas e parentéricas ao domicílio, o que acaba por acarretar custos socioecónomicos elevados, quer para os doentes quer para o SNS. Vamos a dados? O custo total estimado para reverter a malnutrição em doentes em risco ou malnutridos com necessidade de nutrição clínica é cerca de 89 milhões de euros. Este valor correspondia a 0.91% do valor destinado ao setor da Saúde, no orçamento de Estado de 2017. É importante salientar que o custo anual estimado da malnutrição em Portugal é de aproximadamente 225 milhões de euros.
A roda já foi inventada… basta olhar para os nossos países vizinhos, e apostar, efetivamente, em medidas que promovam a saúde em Portugal.
Joana Abreu