Portugueses deveriam reduzir o consumo de carne em 85 gramas diários, revela estudo 4064

Os portugueses terão que reduzir de forma drástica a quantidade de carne vermelha que comem de forma a contribuir para a garantia, de sustentabilidade do planeta e da população mundial, conclui investigador da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto.

Depois do estudo que a revista “Lancet” divulgou acerca da necessidade de redução do consumo diário de carne para a sustentabilidade do planeta – notícia – , Duarte Torres, investigador da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto comparou dados do consumo em Portugal com um relatório da EAT-Lancet, elaborado por uma comissão de 37 especialistas internacionais de 16 países. Concluiu que, em média, um adulto em Portugal consome perto de 100 gramas de carnes vermelhas por dia, quando o recomendado seria um máximo de 28 gramas diários – e, idealmente, uma média de apenas 14 gramas diários, de acordo com a revista científica “Lancet”.

«Isto significa passar de um consumo de carne a um ritmo diário para uma ou, no máximo, duas refeições por semana», diz Duarte Torres, o investigador que, a pedido do jornal “Público” – “P2”, efetuou a análise dos dados. A alteração inclui também, seguindo a lógica da “Lancet”, a carne de vaca, borrego e porco.

Fundamentando-se nos dados do Inquérito Alimentar Nacional e de Actividade Física (IAN-AF, de 2015/16), Duarte Torres examinou o consumo em Portugal de carnes vermelhas, incluindo charcutaria, e chegou aos seguintes números totais: a população em geral consome 88,2 gramas diários; as crianças (dos 3 meses aos 10 anos) 54,6 gr, os adolescentes (dos 10 aos 18) 95,2 gr, os adultos (18 aos 65) 97,3 gr e os idosos 64,4 gramas.

Se tivermos por referência os 14 gramas diários aconselhados, constata-se que os portugueses consomem 98,3% de carne vermelha a mais, informa a fonte. No caso dos adolescentes, e adultos, essa percentagem chega mais longe, a 99,5%. Se a carne de porco for retirada dos “cálculos”, e se se considerar apenas vaca e borrego, os valores diminuem consideravelmente e, em gramas, passa-se, na população geral, para um valor de 34,9 por dia.

O investigador assegura que «necessariamente, por várias razões — de saúde, de sustentabilidade —, devemos caminhar para uma redução gradual do consumo de carne». E, em Portugal, «ainda não existe uma estratégia definida para isso». Segundo Duarte Torres, os dados extraídos já servirão de base para um debate a nível do consumo, afirmando que «os agentes políticos devem começar a pensar nisso». Defende que a redução para um objetivo de 28 gramas diários já é uma boa meta, mas que implica alterações grandes nos hábitos de consumo.

Estas conclusões levam também à necessidade de trabalho de sensibilização da população e para tal, o investigador pensa que se devem introduzir alterações na Roda dos Alimentos, já que é uma ferramenta que serve de referência para quantidades a adotar na alimentação e que «tem vindo a ser atualizada».

Neste momento, o consumo de carne aconselhado na Roda dos Alimentos é ainda superior ao recomendado no relatório da “Lancet” e torna-se claro que «a maioria da população consome acima do limite máximo da Roda dos Alimentos», que ainda assim deverá ser revisto, menciona o jornal o “P2” do Jornal “Público”.

O relatório da “Lancet” vem alterar o paradigma da alimentação humana, indo além da questão de saúde e abrangendo também a questão do impacto ambiental. Para a sustentabilidade do planeta, propõe-se assim a duplicação do consumo de frutas, vegetais e frutos secos. Assim, um prato ideal será composto por metade de vegetais e fruta, e a outra metade de cereais integrais, proteínas vegetais, gorduras vegetais e uma pequena quantidade de proteína animal. Duarte Torres faz notar que tal corresponde já à composição de muitos dos pratos da Dieta Mediterrânica.

O investigador não defende uma dieta que abdique totalmente de carne, já que «nos regimes muito restritivos, há um aumento do risco de algumas carências», e faz a advertência de que particularmente nas crianças, em fase de crescimento, as carências podem ser «severas».