Portugal já tem vacina contra dengue que não exige infeção prévia 441

Portugal tem desde a semana passada uma vacina contra a dengue que não exige contacto prévio com o vírus e é eficaz contra a doença e a prevenir hospitalizações até quatro anos e meio após a vacinação.

Segundo explicou à Lusa o diretor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), Filomeno Fortes, para quem ainda não tivesse tido contacto com o vírus e fosse para zonas onde a doença é endémica, a única orientação que havia era o uso de repelente e de roupa com mangas compridas, para prevenir a picada do mosquito. A vacina que havia apenas podia ser administrada em quem já tivesse tido contacto com o vírus.

Sublinhando que a dengue está entre as 10 principais ameaças globais à saúde pública, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), e se encontra em mais de 125 países, Filomeno Fortes destacou a importância da nova vacina, aprovada em dezembro pelo Infarmed.

“Ela já está indicada para pessoas que tenham ou que não tenham tido infeção e vai dos quatro anos de idade até aos 60 anos”, explicou, acrescentando que deve ser tomada em duas doses, com um intervalo de um a três meses.

Questionado sobre a possibilidade de comparticipação pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS), diz que faria sentido as autoridades considerarem essa hipótese “se houvesse surtos, como já aconteceu na Madeira”, cita a Lusa.

“Supondo que aqui em Portugal, na Madeira, onde nós temos aedes aegypti, onde já houve epidemias de dengue no passado, se estivermos perante uma situação de risco de a epidemia ressurgir, as autoridades devem decidir se pretendem vacinar massivamente a população e, nesse caso, o SNS deve assumir os custos”, afirmou.

E explica a vantagem de vacinar toda a população de determinada zona onde apareçam surtos: “o mosquito quando pica a pessoa introduz o vírus no sangue. Os anticorpos [se a pessoa estiver vacinada] previnem que o efeito do mosquito prejudique aquele organismo, mas aquela pessoa, enquanto estiver infetada, (…) se for picada, pode infetar outro mosquito que, por sua vez, pode transmitir o vírus a outras pessoas”.

Sublinhou ainda que o mosquito, uma vez infetado, fica sempre infetado e que os ovos que deixa, quando eclodirem, “vão eclodir já com vetores infetados”.

Segundo disse, a nova vacina – que protege contra todos os tipos de dengue – apresenta “uma eficácia de 80% aos 12 meses” e, quanto à prevenção de internamentos, a eficácia é de 90,4%.

Filomeno Fortes adianta também que esta nova vacina é “completamente eficaz” no que se refere à variante 2 de dengue: “Com as duas doses, a probabilidade de desenvolver mesmo sintomas ligeiros é nula”.

Em relação aos outros serotipos (1, 3 e 4), quem for vacinado pode desenvolver “um quadro muito leve da doença”.

Sob o ponto de vista da saúde pública, insiste na necessidade de aumentar a literacia relativamente à doença, lembrando tanto a população como os profissionais de saúde que os sintomas podem ser inicialmente confundidos com os de uma gripe.

Manter a vigilância e as medidas de controlo do vetor é outra das prioridades – sobretudo onde o mosquito aedes albopictus (em território continental) e o aedes aegypti (na Madeira) já foram detetados -, assim como a vigilância epidemiológica permanente.

Aponta igualmente a necessidade de ter “capacidade de diagnóstico”, lembrando que existe um teste de deteção rápida que pode ser usado por qualquer médico para despistar a infeção e que deve estar disponível nos centros de saúde.

Se houver um caso confirmado com dengue – alerta -, deve evitar-se determinado tipo de medicamentos, “pois podem interferir nos casos de hemorragia do doente”.

No IHMT, segundo explicou, a indicação é para os viajantes que vão para zonas onde a dengue é endémica se vacinarem pelo menos duas semanas antes.