Já antes de a pandemia de Covid-19 se alastrar a nível mundial, as preocupações ambientais ligadas à criação intensiva de animais estavam no centro das atenções, tendo sido um dos principais impulsionadores da transição dos hábitos alimentares para um maior consumo de alimentos de origem vegetal. Atualmente, a preocupação com a saúde e bem-estar pessoais, impulsionada pela crise pandémica, veio trazer um novo fôlego a esse mesmo movimento. Não há, por isso, melhor período que o atual para refletir sobre o impacto que a nossa alimentação tem no planeta.
A alimentação saudável e, sobretudo, a alimentação à base de produtos de origem vegetal, está, felizmente, cada vez mais em voga, não só pelos inúmeros benefícios para a saúde e performance individuais, mas também pelo impacto que as nossas escolhas alimentares têm no planeta. Com a crescente consciencialização dos consumidores – e da sociedade de uma forma global – há, atualmente, uma maior preocupação com a redução do consumo de carne e de produtos de origem animal, que se verifica através da maior procura por alimentos à base de plantas. Não é, contudo e infelizmente, suficiente. Precisamos de ir mais longe. O mundo não poderá continuar a insistir em hábitos de consumo que o destroem.
E a melhor notícia é que nem precisamos de ser fundamentalistas ou de alterar completamente os nossos hábitos alimentares para inverter o nosso caminho! A sociedade encontra-se, hoje, mais disposta a experimentar produtos novos e a inserir novos alimentos na sua dieta (ainda que de forma gradual). Uma gastronomia tão rica e variada como a de Portugal pode – e deve – ser conciliada com produtos ambientalmente responsáveis.
Precisamos, por isso, de dar os passos certos na forma como consumimos e produzimos aquilo que comemos. O setor de produtos à base de plantas cresceu exponencialmente nos últimos anos, mas é imperioso atuar mais rapidamente se quisermos enfrentar a urgência da crise climática e o papel crucial que a alimentação desempenha nesse processo. Há, ainda, uma grande lacuna na compreensão, por parte do consumidor, sobre o impacto positivo que a redução do consumo de carne pode ter no meio ambiente e, por isso, há que ir muito além do objetivo de expandir o público vegetariano e vegano. É fundamental aumentar significativamente o número de pessoas que optaram por reduzir o consumo de carne, normalizando o consumo de alimentos de origem vegetal. Pequenas mudanças podem fazer grandes diferenças.
Os produtores e as empresas desempenham, também, um papel muito importante neste movimento. A aposta em inovação tecnológica permite conceber novos produtos à base de alimentos como ervilhas, arroz e outras proteínas vegetais, respondendo tanto às tendências dos consumidores – no que diz respeito à textura, ao sabor e à experiência culinária e degustativa –, como ao imperativo de criar soluções ambientalmente sustentáveis. Aqui, refira-se que os produtos de base vegetal podem utilizar 90 por cento menos terra e entre 70 e 80 por cento menos água na sua produção, representando uma redução significativa nos recursos utilizados e contribuindo, assim, para a biodiversidade.
É caso para perguntar: Serão precisos mais motivos para incluir alimentos de origem vegetal na nossa dieta?