01 de Abril de 2016 A percentagem da população mundial obesa ultrapassou em quatro décadas o número de pessoas mal nutridas, quando em 1975 não chegava a metade da percentagem de população subalimentada, de acordo com um estudo divulgado ontem pela “The Lancet”. O número total de pessoas obesas em todo o mundo subiu de 105 milhões, em 1975, para 641 milhões, em 2014. A percentagem de homens obesos em todo o mundo mais do que triplicou (de 3,2% para 10,8%) e a das mulheres mais do que duplicou (6,4% para 14,9%), de acordo com o que é o mais exaustivo estudo mundial sobre o índice de massa corporal (IMC) até agora realizado, divulgado ontem pela prestigiada revista médica britânica, avançou a “Lusa”. Em contrapartida, no mesmo período, a percentagem de pessoas subnutridas caiu mais modestamente, cerca de um terço, tanto no caso dos homens (de 13,8% para 8,8%) como no das mulheres (de 14,6% para 9,7%). Por outro, a esperança média de vida aumentou de menos de 59 anos para mais de 71 anos, a um ritmo de 3,6 meses por ano ao longo das últimas quatro décadas, pelo que, demonstra o estudo, o mundo está não apenas mais gordo como mais saudável. Mas também mais desigual, como decorre do facto de ser bastante mais acelerada a progressão da obesidade que o avanço população global – sobretudo nas regiões mais pobres do mundo – que consegue fugir à subnutrição. No período em análise, a média mundial do IMC, corrigido dos fatores relacionados com a idade, subiu dos 21,7 para 24,2 nos homens, e de 22,1 para 24,4 nas mulheres, o que resulta na conclusão de que a humanidade engordou ao ritmo médio de 1,5 quilos por década. Se a taxa de obesidade mantiver o atual ritmo de escalada, em 2025, cerca de um quinto dos homens (18%) e das mulheres (21%) em todo mundo serão obesos, e mais de 6% dos homens e 9% das mulheres sofrerão de obesidade severa (35,0 ou mais). «Nos últimos 40 anos, passámos de um mundo em que a prevalência da subalimentação mais do que duplicava a da obesidade para um mundo em que há mais pessoas obesas do que subnutridas», sintetiza Majid Ezzati, professor da Escola de Saúde Pública do Imperial College em Londres, citado pela “The Lancet”. Com exceção de algumas sub-regiões da África Subsaariana e da Ásia, a tendência de alteração do peso nos pratos da balança da obesidade e da subnutrição verifica-se a nível global, assim como em todas as regiões do mundo – aconteceu em 2004 no caso das mulheres e em 2011 nos homens. Com efeito, a subalimentação mantém-se como um problema muito sério de saúde pública nas regiões mais pobres do planeta, e os autores do estudo alertam mesmo para o perigo da tendência do aumento da obesidade vir a provocar um efeito de negligência das políticas públicas direcionadas ao flagelo da subnutrição. Por exemplo, no sul da Ásia, cerca de um quarto da população é subalimentada e as percentagens de homens e mulheres subnutridos nas regiões da África Oriental e Central são respetivamente de 15% e 12%. Timor-Leste, Etiópia e Eritreia são os países com os IMC mais baixos em todo o mundo. Timor-Leste tem o índice de massa corporal mais baixo nas mulheres (20,1) e a Etiópia o mais baixo no caso dos homens (20,1). Mais de um quinto dos homens na Índia, Bangladesh, Timor-Leste, Afeganistão, Eritreia e Etiópia e mais de um quarto das mulheres no Bangladesh e Índia são subnutridos. O índice de massa corporal é um indicador adotado pela OMS (Organização Mundial de Saúde), usado para o diagnóstico do baixo peso, sobrepeso e da obesidade. O IMC é calculado a partir dos dados do peso e altura. O estudo divulgado pela “The Lancet” resulta do levantamento e análise dos dados relativos ao IMC de adultos (mais de 18 anos) entre 1975 e 2014 constantes em 1698 estudos da população de 186 países, cobrindo 99% da população mundial com aquela faixa etária. |