Pneumologistas alertam para risco de consumo de cigarros eletrónicos nos jovens 882


30 de maio de 2018

O uso de cigarros eletrónicos e tabaco aquecido está a preocupar a Sociedade Portuguesa de Pneunomologia, que teme serem «produtos atraentes» para os jovens por acharem que são mais seguros e menos tóxicos, o que é «uma falsa ideia».

Em declarações à agência “Lusa”, o coordenador da Comissão de Trabalho de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumonologia, José Pedro Boléo-Tomé, alertou hoje para a necessidade de intervir, junto dos adolescentes, com campanhas atrativas e um «trabalho continuado» para evitar a iniciação tabágica, em especial destes novos produtos.

«Há um risco agora mais recente que são os novos produtos como os cigarros eletrónicos, tabacos aquecidos e outros produtos» que são «atraentes para os jovens» para experimentação, porque «dão uma aparência de serem interessantes, giros, tecnológicos», disse o especialista, que falava à “Lusa” a propósito do Dia Mundial Sem Tabaco, que se assinala na quinta-feira.

Contudo, estes produtos também têm tóxicos, muitos dos quais parecidos com os do cigarro. «A falsa ideia de que são produtos seguros ou que são muito mais seguros [do que o cigarro] é muito duvidoso, é preciso dizer às pessoas que são produtos que têm componentes perigosos, tóxicos e com altas doses de nicotina» e que o risco de «ficar dependente é muito alto», salientou.

Para José Pedro Boléo-Tomé, «é importante» que haja informação sobre este risco e que seja numa linguagem adaptada à população jovem.

«O que interessa aos jovens não são as doenças, porque para eles é uma questão que não se coloca, mas é mostrar que ser ‘cool’ não passa por fumar qualquer produto», disse, explicando que é preciso mostrar-lhes que «os hábitos saudáveis é que são bons» e «marginalizar o ato de fumar qualquer que seja o produto».

A mensagem deverá chegar-lhes de uma forma atrativa através da internet ou do ‘smartphone’, vias a que os jovens são muito recetivos. «Da mesma forma que a indústria tabaqueira foi sempre criativa a fazer publicidade aos seus produtos também existem formas criativas de fazer o oposto, mostrar que o tabaco e os outros produtos não prestam e que o que presta são os hábitos saudáveis».

«Mas não bastam campanhas, é um trabalho que tem que ser feito de uma forma muito continuada», porque «é preciso mudar uma geração» e evitar que as crianças e adolescentes comecem a fumar. «Isso é que vai ter impacto no futuro», salientou.

Um estudo, apoiado pela Direção-Geral da Saúde (DGS), que decorreu no ano letivo 2013/2014, revelou que a iniciação tabágica ocorre entre o 7.º e o 9.º ano. No 7.º ano, cerca 70 a 80% dos jovens nunca fumaram um cigarro, uma percentagem que baixou para os 40% no 9.º ano.

Sobre o consumo de tabaco nos jovens, Boléu-Tomé disse que os vários inquéritos indicam que não tem havido um aumento muito grande, mas «há algumas questões preocupantes», nomeadamente o facto de as raparigas estarem a fumar mais do que os rapazes, acompanhando o que está a acontecer com as mulheres jovens até aos 30 anos, que «estão a fumar cada vez mais».

«O que está a acontecer é que no futuro vamos ter cada vez mais mulheres fumadoras e menos homens a fumar», comentou o pneumologista.

Para assinalar o Dia Mundial Sem Tabaco, a SPP vai lançar uma campanha promocional sobre os benefícios de não fumar, com testemunhos de vários ex-fumadores que pretende mostrar que«as pessoas têm imenso a ganhar» se deixarem de fumar, independentemente da idade, do que já fumaram ou de terem doenças ou não.

Segundo estimativas elaboradas pelo Institute of Health Metrics and Evaluation, em 2016, morreram em Portugal mais de 11.800 pessoas por doenças atribuíveis ao tabaco.