Pedro Graça defende rótulos alimentares que facilitem escolha saudável 800

 

08 de novembro de 2017

O diretor do Programa Nacional de Promoção da Alimentação Saudável, Pedro Graça, disse hoje à “Lusa” que é necessário simplificar os rótulos dos alimentos para aumentar o acesso das pessoas com menor literacia a uma alimentação equilibrada.

 

«Essa simplificação dará uma autonomia e uma capacidade de escolha muito elevada ao cidadão que faz dezenas de escolhas no supermercado, no espaço de uma ou duas horas, e que não tem tempo para ler nem para compreender os rótulos», considerou.

Pedro Graça, professor da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP) falava à “Lusa” a propósito das Jornadas da Comissão de Ética da Universidade do Porto, que decorrem hoje, na reitoria da Universidade do Porto, subordinadas ao tema “Bioética, Consumo e Políticas Alimentares”.

Neste evento, Pedro Graça apresenta dados relativos à dificuldade da população em ler e compreender a informação nutricional contida nos rótulos alimentares, situação mais evidente nas pessoas com menor literacia.

«Temos um ambiente em que os produtos saudáveis estão misturados com os não saudáveis e onde a escolha pelo saudável ou é mais cara ou mais difícil», sendo necessário à população ter «muitos conhecimentos» para perceber a diferença, indicou.

Na sua opinião, é preciso continuar a fazer educação «cada vez com mais qualidade» para contornar essa situação, e criar, em paralelo, «ambientes onde as pessoas com poucos conhecimentos tenham à sua disposição produtos maioritariamente saudáveis».

«Se olharmos para a prevalência da hipertensão na população adulta ocidental, nomeadamente por diferentes níveis de escolaridade, observamos que naquelas que frequentaram o Ensino Superior esta ronda os 25%, enquanto na população menos escolarizada ou sem qualquer escolaridade sobe para os 45%», referiu.

Pedro Graça considera que, além da educação de maior qualidade, é necessário adotar outras medidas como a taxação dos produtos menos saudáveis (com elevada quantidade de sal, por exemplo), tornando-os mais inacessíveis e incentivando a indústria a reformulá-los.

De acordo com o professor, esta medida pode ser encarada como uma limitação à liberdade na escolha dos alimentos. Contudo, é uma garantia que as pessoas que tenham menos capacidade de fazer de escolhas possam, com pouco esforço, ter acesso a alimentos saudáveis.

O intuito é «pagar mais por produtos de pior qualidade» e que esses «tendam naturalmente a desaparecer das prateleiras dos supermercados», avançou.

Pedro Graça referiu-se ainda à obesidade – presente em 11% da população adulta masculina -, na hipertensão e na diabetes, que atingem 20% e 8% da população geral, respetivamente.

Segundo o diretor, estes dados refletem uma sociedade onde a população doente e idosa tende a aumentar enquanto a mais jovem diminui, fazendo com que «os que contribuem para o sistema sejam cada vez menos e os que consomem recursos cada vez mais».