Parlamento venezuelano cria comissão para responder a crise alimentar 783

11 de Novembro de 2016

O parlamento venezuelano, onde a oposição tem maioria, decidiu criar uma comissão para encontrar soluções para a crise alimentar no país e instou o Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, a substituir o ministro de Alimentação.

A oposição insistiu, no debate, ontem, que para 72% da população da Venezuela, mais de 22 milhões de pessoas, entre os principais problemas do país estão o abastecimento, a escassez de produtos e o alto custo da vida.

«Como pretendem que haja produção [nacional] quando pagam ao produtor 96 bolívares [0,13 euros] pelo quilograma de milho e pagam 278 [0,38 euros] pelo milho importado dos Estados Unidos?», questionou o deputado Carlos Paparoni.

Por outro lado, denunciou que os Comités Locais de Abastecimento e Produção (Clap), criados pelo Governo venezuelano, distribuem apenas 2% dos produtos.

«Trata-se de uma bolsa que está desenhada para uma semana de comida e que é distribuída a cada mês e meio. Não ultrapassa mais de 15% dos venezuelanos e os 85% que não se beneficiam não têm como comprar comida», disse.

O deputado Juan Guaidó exemplificou que «para comprar quatro produtos alimentares», os venezuelanos gastam «50% do salário mínimo» local, avançou a “Lusa”.

A deputada Maria Beatriz Martínez apresentou gráficos de dados que dão conta que pelo menos 53% da população não faz três refeições diárias.

«80% dos venezuelanos perdem peso porque a nutrição no nosso país está pelo chão (…), padecemos de uma violação de um direito fundamental humano como é a segurança alimentar», disse.

Dignora Hernández insistiu que «para falar de fome há que padecê-la» e que «há estatísticas e testemunhas que o Governo não quer ouvir».

«Há crianças que não podem nem sequer alimentar-se com leite materno» e existem apenas quatro bancos de leite aprovados pela Organização Mundial da Saúde no país, acrescentou.

Os socialistas, no poder, chamaram «irresponsáveis» aos deputados da oposição por falarem em desnutrição.

O deputado socialista Luís Soteldo afirmou que a Venezuela está a produzir 52% do arroz de que precisa, que em dezembro os venezuelanos terão milho produzido no país e que o Governo tem «demonstrado que sabe superar as dificuldades».

Com os votos da oposição, o parlamento aprovou a criação de uma comissão para responder à crise alimentar. O texto da proposta aprovada exige ainda ao Governo que cumpra a Constituição em termos de segurança alimentar e que substitua o ministro de Alimentação, Rodolfo Marco Torres.

Por outro lado, pede a Nicolás Maduro que permita a entrada de ajuda humanitária alimentar no país e que divulgue os dados oficiais sobre a escassez, inflação, desnutrição e falta de abastecimento.

O texto insta também o Governo «a abandonar a perseguição a altos setores produtivos do país».