Parkinson: Investigadores descobrem novos efeitos protetores da cafeína 1170

24 de Novembro de 2015

Um grupo de cientistas do Instituto de Medicina Molecular (IMM) da Universidade de Lisboa, em colaboração com colegas das universidades de Göttingen (Alemanha), de Coimbra e do Porto, descobriram novos efeitos protetores da cafeína na doença de Parkinson.  

 

Já havia alguns indícios de que a cafeína protege contra os problemas motores associados a esta doença neurodegenerativa. Contudo, os investigadores, liderados por Luísa Lopes e Tiago Outeiro do IMM, mostram, num artigo publicado na revista “Cerebral Cortex”, que esta pode ser igualmente benéfica contra os problemas cognitivos dos doentes com Parkinson e pode inclusivamente proteger os indivíduos perante a doença.

 

«Uma das novidades [do nosso trabalho] é o facto de termos estudado os défices cognitivos associados à doença de Parkinson, que são menos considerados do que os sintomas motores mais característicos, como a rigidez e o tremor», explicou ao “Público” Luísa Lopes.

 

O novo trabalho é o resultado de um conjunto de investigações, ao longo de vários anos, que os investigadores conseguiram agora fazer encaixar entre si. Uma das peças deste puzzle diz respeito a uma proteína, chamada alfa-sinucleína.

 

Os sintomas motores da doença de Parkinson resultam da morte celular de uma pequena região do cérebro, chamada “substância negra”. E a alfa-sinucleína é o principal ingrediente dos aglomerados patológicos que se formam na substância negra dos doentes com Parkinson.

 

Entretanto, a equipa de Rodrigo Cunha, da Universidade de Coimbra e co-autor do artigo agora publicado, estudou o efeito protetor da cafeína contra a depressão e a perda de memória que resultam da exposição ao stress. E descobriu que, a nível molecular, esse mecanismo protetor passa, ao que tudo indica, pelo facto de a cafeína bloquear, de forma seletiva, certos recetores presentes à superfície dos neurónios, chamados “receptores A2A da adenosina”.

 

A equipa do IMM também obteve resultados que iam nesse sentido, em particular no que respeita à perda de memória associada ao envelhecimento. Esses resultados, diz-nos ainda Luísa Lopes, «apoiam a hipótese de que, bloqueando a ação dos recetores A2A de adenosina – tal como a cafeína faz quando ingerimos café –, induz-se um efeito protetor contra a perda de memória associada ao envelhecimento».

 

Os cientistas perguntaram-se então se esse efeito benéfico poderia dever-se, no caso da doença de Parkinson, à neutralização da toxicidade da alfa-sinucleína precisamente através do bloqueio daqueles recetores pela cafeína ou por moléculas com efeitos bloqueadores semelhantes aos da cafeína.

 

«Já havia vários estudos epidemiológicos que sugeriam uma associação entre a ingestão de cafeína e a proteção contra a doença de Parkinson», explica ainda a cientista. «Porém, a ação direta da cafeína na toxicidade da alfa-sinucleína nunca tinha sido estudada».

 

Em colaboração com o grupo de Tiago Outeiro, «decidimos testar a hipótese de que este grupo de moléculas [bloqueadoras] também seria eficaz na toxicidade induzida pela alfa-sinucleína – sendo portanto relevante na doença de Parkinson», acrescenta Luísa Lopes.

 

Em particular, Rodrigo Cunha «mostrou que, quando removemos os recetores A2A da adenosina dos neurónios, cancelamos a toxicidade da alfa-sinucleína», diz-nos ainda Luísa Lopes. «Esta foi uma experiência de controlo fundamental para demonstrar que, de facto, a proteção é conseguida ao bloquearmos esses recetores», salienta a Luísa Lopes.