06 de fevereiro de 2019 Especialistas têm vindo a defender a reformas alimentares com redução no consumo de carne e produtos de origem animal. Acerca desse assunto e de um consumo sustentável, o Diretor do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável esclarece alguns aspetos.
Num texto publicado no portal do “SIC Notícias”, Pedro Graça partilha a apreensão da comunidade científica pelas mudanças climáticas resultantes da produção alimentar, realçando que toda a produção alimentar, incluindo «transporte e a embalagem fazem com que por cada caloria ingerida seja necessária a utilização de uma quantidade muito superior de água e energia, e que essa quantidade aumente quando consumimos (de um modo geral) produtos de origem animal». Contudo, alerta que é necessário um pensamento mais abrangente sobre os comportamentos alimentares e sobre a forma como consumimos, «antes de diabolizarmos exclusivamente a carne». Defende, assim, que «para protegermos este nosso planeta precisamos muito mais do que reduzir o consumo de carne».
Pedro Graça continua afirmando que em primeiro lugar há que dar atenção especial à «eficiência do próprio sistema», já que «1/3 dos alimentos que produzimos é deitado fora», sendo um sinal da falha no sistema de produção que «é incentivado pelos consumidores que deixaram de comer peixe e passaram a comer filetes ou da compra de fruta normalizada». Outro aspeto importante para o diretor do PNPAS foca-se no consumo de produtos «ultra embalados», sem haver necessidade, representado um desperdício elevado de energia, e uso de plásticos e outros agressores ambientais. «Estes comportamentos são incentivados pelos consumidores ao não escolherem água da rede em casa ou nos restaurantes, ao aceitarem talheres de plástico ou ao comprarem comida embalada em plástico nas lojas alimentares e não separarem em casa», refere.
O terceiro aspeto destacado é o que Pedro Graça chama de «desperdício metabólico», que tem a ver com o facto de mais de metade dos portugueses terem peso a mais, ou seja, «comerem mais calorias do que provavelmente do que necessitam». Recorda que este excesso faz o país gastar quase dois terços do seu orçamento da saúde em doenças crónicas associadas, que defende, poderiam ser controláveis por cada um.
Em relação à questão da carne, Pedro Graça remete para a dieta mediterrânica, «onde a carne era venerada porque exígua», como uma lição de como fazer uma alimentação com pequeníssimas quantidades de carne e peixe. Esse modo de comer prima pelo uso de alimentos como o grão, lentilhas e a outras leguminosas e ainda cereais para combater a escassez de proteína animal. Faz notar que «no mediterrâneo sabemos que pequeníssimas porções de carne ao longo da semana, podem desempenhar um papel importante ajudando as pessoas a satisfazer suas necessidades essenciais de nutrientes e com riscos relativamente baixos para a saúde». Reforça, assim, que uma quantidade pequena de carne magra tem níveis importantes de minerais, em particular vitamina B12, que os produtos de origem vegetal não contêm, e de proteína de alto valor biológico com todos os oito aminoácidos essenciais requeridos por adultos. Toma esta dieta como exemplo, que inclui o consumo de carne ou peixe ocasionalmente ao longo da semana, ou seja, 2 a 3 refeições por semana, prevenindo para a necessidade de variar os vegetais.
Quanto ao modelo de compra e confeção dos alimentos, Pedro Graça remata que a mudança deve centrar-se nos processos de produção «que devem ser eficientes para alimentar um número crescente de seres humanos à face da Terra mas ao mesmo tempo sustentáveis», independentemente de serem produtos de origem animal ou vegetal. Sublinha que Portugal teve o primeiro Ministério da Saúde na Europa a publicar orientações específicas para crianças em idade escolar com uma dieta vegetariana. |