Sinónimo de «mobilização e atualização científica», nas palavras de Nuno Borges, o Congresso de Nutrição e Alimentação (CNA) regressa este ano ao Porto, após uma prolongada ausência devido à covid-19. «Será, por isso, uma edição também de muitas alegrias e reencontros», sublinha o presidente da comissão científica deste evento da Associação Portuguesa de Nutrição (APN), que em 2023 tem um motivo extra de interesse: o Congresso Internacional de Nutrição e Alimentação (CINA).
Viver Saudável (VS) | “Nutrition in a Changing World” é o tema central da 22.ª edição do CNA da APN, que decorre nos dias 11 e 12 de maio, no Centro de Congressos da Alfândega do Porto. Pedimos para contextualizar o tema que pretendem desenvolver. No fundo, porquê este tema? E porquê agora?
Nuno Borges (NB) | Encontramo-nos num período de grandes desafios, com as alterações climáticas, os efeitos da pandemia, a guerra numa proximidade geográfica, o potencial de insegurança alimentar devido às flutuações inflacionárias, a pobreza, o incremento de doenças crónicas não transmissíveis, e que já obrigam a uma reestruturação na forma como pensamos a alimentação e nutrição da população. Neste sentido, a comissão científica do CNA da APN encontra-se a desenhar um congresso que procurará explorar estas áreas num mundo em mudança, no seio de um público especializado e competente para operar a mudança.
VS | Na edição de 2023, paralelamente ao CNA, decorrerá a terceira edição do CINA. Qual é a importância da internacionalização do evento?
NB | Temos apostado na realização do CINA de dois em dois anos, de forma a poder aumentar a partilha de conhecimento e experiências por parte de mais oradores internacionais nestas edições. Além disso, é também uma forma de atrair mais participantes internacionais e gerar mais comunicação sobre a APN além fronteiras.
VS | O que podem os participantes esperar deste XXII CNA e III CINA?
NB | Podem esperar a elevada qualidade habitual deste evento. Experienciar a sua capacidade mobilizadora, com a presença esperada de mais de 1.500 participantes, dezenas de oradores de renome nacional e internacional, reunidos num programa científico que traduz a atualidade da nutrição e alimentação. Além disso, será possível esperar uma comissão organizadora empenhada em coordenar todos estes afazeres e desenvolver mais um congresso memorável para os seus participantes.
VS | O que destaca do programa científico do congresso?
NB | Para além do já abordado, destacaria o modelo de funcionamento. Vamos ter uma sala cuja língua oficial será o português e outras duas salas em que a língua oficial será o inglês. Esta informação ficará devidamente identificada no programa do evento. Será, assim, uma forma de fazer, em certa medida, a distinção entre o congresso nacional e o congresso internacional.
VS | Com a realização do CINA, é expectável a presença de mais oradores internacionais.
NB | Sim, em todas as edições internacionais temos vindo a fazer o esforço de incrementar o número de oradores internacionais em cerca do dobro do habitual.
VS | Entre os palestrantes nacionais e internacionais, sobressai algum nome?
NB | Temos vários oradores de relevo, dado o seu percurso e publicações efetuadas, mas poderíamos destacar a presença do Prof. Carlos Augusto Monteiro, da Universidade de São Paulo, no Brasil, um dos principais investigadores no desenvolvimento da classificação NOVA, trabalhada no âmbito do processamento de alimentos.
VS | Quais são os grandes objetivos para esta edição?
NB | Os objetivos são transversais a outras edições. Procuraremos potenciar a habitual partilha de experiências e conhecimento técnico e científico deste congresso com um conjunto muito alargado de oradores, moderadores e participantes. Trata-se de um dos congressos mais participados da área e dos mais antigos, por isso, conta com essa dimensão e sucesso para garantir um evento de elevada qualidade e certamente memorável.
VS | Referem no texto de apresentação do evento que «atravessamos um período de grandes desafios». «Alterações climáticas, efeitos da pandemia, guerra numa proximidade geográfica, potencial de insegurança alimentar devido às flutuações inflacionárias, pobreza, incremento de doenças crónicas não transmissíveis, vão obrigatoriamente impelir uma reestruturação na forma como pensamos a alimentação e nutrição da população», apontam. E reforçou isso logo no início da entrevista. Neste mundo em mudança, que papel deve assumir o nutricionista?
NB | Deve assumir um papel de relevância nestas matérias, pois tem preparação técnica para operar nestas áreas. Desta forma, será importante a sua constante atualização técnica, mas também da evolução dos assuntos na sociedade, para uma melhor preparação para dar resposta aos problemas.
VS | E novamente neste mundo em mudança, qual é a importância da atualização científica, técnica e profissional dos nutricionistas, através da participação em eventos como o CNA / CINA, por exemplo?
NB | O nutricionista insere-se numa área muito dinâmica em termos de conhecimento, por isso, tem de procurar conhecimento com muita regularidade, seja em congressos, em cursos de atualização profissional, em fóruns de discussão técnica e científica ou, por si só, em plataformas de conhecimento científico. O que se destaca, realmente, é a necessidade de atualização constante, diria diária.
VS | O interesse científico do evento é ainda complementado por trabalhos originais, que podem ser apresentados sob a forma de comunicação livre ou poster. Quantos trabalhos originais foram submetidos nesta edição? Este número corresponde ao inicialmente esperado?
NB | Foram submetidos mais de 150 trabalhos, o que está em linha com as edições anteriores. São sempre submetidos temas de muito interesse, que complementam o programa científico do congresso, considerando a variedade de temas e áreas que surgem. De destacar que se tratam apenas de trabalhos originais, permitindo-se, assim, partilhar neste congresso os resultados dos projetos de investigação mais atuais que se estão a desenvolver em Portugal e fora de Portugal na área da nutrição e alimentação.
VS | Depois de duas edições online, em 2020 e 2021, e uma edição presencial na cidade de Lisboa, em 2022, podemos dizer que o CNA regressa a “casa”. Em termos gerais, quais são as suas expetativas para este ano?
NB | Sim, é verdade. Regressamos presencialmente ao Porto. Será um momento de reunião de muitos colegas que já não se veem há muito tempo… há sempre participantes que vão a todas as edições, independentemente da localização do congresso, mas há sempre um número razoável de participantes que não o faz e aguarda o ano em que o congresso lhes fica mais perto em termos de localização. Desta forma, esperamos que este ano se assista à reação do ano passado, em que se assistiu ao reencontro sentido de vários colegas. Será, por isso, uma edição também de muitas alegrias e reencontros.
VS | Atualmente, quais são os grandes desafios para os nutricionistas portugueses?
NB | São, essencialmente, os que conseguimos identificar na apologética do tema deste congresso, mas também a necessidade basilar do nutricionista saber destacar as suas valências, com base na sua preparação técnica, nas áreas em que trabalha, tratando-se das mais antigas ou das mais emergentes que vão surgindo.
VS | Regressando ao evento da APN, o que move o nutricionista Nuno Borges para continuar à frente da comissão científica do CNA? É presidente há mais de dez edições…
NB | Boa questão! É certo que mais de dez anos é muito tempo e certamente que esta situação irá mudar mais tarde ou mais cedo, como é natural e desejável. Ainda assim, este tem sido um período em que tenho sido muito apoiado, seja pela direção da APN, que integro, por todos os membros da comissão científica e também pelo dedicado corpo técnico da APN. Só assim é possível manter esta longevidade. Claro que o outro estímulo é a própria evolução das Ciências da Nutrição, que estão em permanente evolução e que assumem um papel cada vez mais relevante e notório na sociedade atual. Essa sensação de utilidade à sociedade em que vivemos e do próprio reconhecimento público que hoje é dado à Nutrição são certamente importantes para a motivação que temos para este tipo de tarefas.
VS | O que espera alcançar no final desta edição?
NB | O sucesso habitual. Os sorrisos de satisfação nas caras dos participantes à saída do evento.
VS | O CNA é sinónimo de…
NB | Mobilização e atualização científica.
VS | Uma mensagem para os colegas nutricionistas que ainda estejam indecisos quanto à sua participação no evento.
NB | A experiência de se ir a um congresso muito participado é sempre avassaladora, pela sua dimensão, pela sua organização e dinâmica, pelo que isso só já seria uma experiência interessante. Contudo, é de destacar o programa científico atual, pertinente, onde se poderão encontrar oradores com experiência, reconhecimento de trabalho científico e técnico, cuja partilha conseguirá enriquecer nas diversas áreas de atuação do nutricionista, pois haverá temas que tocarão todas as áreas de atuação.