Pão pão, Queijo queijo 1097

Em ano de Jogos Olímpicos, com o Euro 2016 ainda a decorrer e a Volta à França a começar, este é um verão em cheio para todos os que se interessam por desporto de alto nível. E sendo impossível falar de alto rendimento sem contemplar a nutrição dos atletas, faz sentido refletir um pouco nos desafios que se colocam aos Nutricionistas que trabalham nesta área específica.

Uma das maiores exigências é filtrar a informação existente, pelo que há toda uma série de perguntas a fazer antes de extrapolar resultados (mesmo de estudos excelentes) para a nossa prática. Qual a validade da metodologia no contexto em que trabalhamos? Como se compara a amostra do estudo com os atletas com quem trabalhamos? Qual o baseline dos atletas estudados? Quais as condições em que realizam o esforço? Isto, quando temos estudos ou evidência, pois ainda há áreas da nutrição desportiva onde os trabalhos realizados são muito limitados ou inexistentes!

O “segredo” para quem trabalha de forma séria nesta área é precisamente ter um bom sentido crítico na análise da informação existente e conseguir o mais elevado grau de personalização na intervenção nutricional. Mais do que dizer ao atleta para comer isto ou tomar aquilo, a eficácia surge quando se conhece como come, como se exercita e como recupera. É preciso saber o que o atleta come fora dos períodos de esforço, quem cozinha ou onde come, o que é mais fácil ou prático para si e, não menos importante, no que sente ou acredita que o faz render mais. Não há por isso recomendações alimentares por modalidade ou apenas por tipo de esforço, mas sim recomendações por atleta.

Todo este trabalho de personalização da abordagem nutricional é deveras exigente para o Nutricionista. Sincronizar a alimentação e o esforço físico com vista à obtenção de resultados específicos é uma tarefa difícil, quer se trate de alguém que começa a fazer exercício para emagrecer ou de um atleta de elite que tem de comer para render o máximo. E mesmo dentro de uma mesma modalidade, os desafios variam imenso – por exemplo, o trabalho do Nutricionista com jogadores de futebol num Clube é diferente daquele que se realiza no âmbito da Seleção Nacional.

Talvez uma boa forma de ser bem-sucedido passe por manter a curiosidade e procurar aprender permanentemente. Conhecer bem o desporto dos nossos atletas, acompanhar in loco as provas, vê-los e ouvi-los quando treinam e competem, ou conhecer o que comem os campeões de cada modalidade são momentos de aprendizagem garantidos – sobretudo quando contrariam muito daquilo em que podemos acreditar! Nenhum trabalho em nutrição desportiva estará concluído se ficarmos apenas pelas buscas no PubMed ou pelo estudo dos manuais de Fisiologia… Afinal, foi esta busca constante por ser mais rápido ou mais forte que nos fez evoluir desde os tempos em que Milo de Crotona, campeão olímpico por sete vezes nos Jogos da antiga Grécia, anunciava como parte da receita para o seu sucesso os 9 kg de carne, 9kg de pão e 10 l de vinho que ingeria diariamente.

Rodrigo Abreu,
Nutricionista