Pão pão, Queijo queijo! 686

Junho marca o arranque oficial da época balnear e para muitos isso significa confrontar-se com a exposição pública dos seus quilinhos a mais. Por isso, é grande a tentação de resolver nalgumas semanas aquilo que se escondeu o inverno todo. Não é por isso de estranhar que o período pré verão seja uma verdadeira silly season no que respeita a dietas novas, comprimidos mágicos e milagres para a perda de peso.

Todos os anos por esta altura, surgem revelações sobre “propriedades” de determinados alimentos, que ora são permitidos ou excluídos da nossa alimentação. Há também as dietas que anunciam os quilos que vamos perder (mesmo sem sequer nos conhecer) e as dietas mascaradas de ciência, que se baseiam em supostas características ou marcadores individuais, e que geralmente incluem exames ou análises especiais que servem para sabermos o que nos vai engordar ou emagrecer. E claro, na silly season não podem faltar os comprimidos mágicos, sejam eles 100% naturais ou preparados através de uma qualquer fórmula secreta que só agora ficou disponível para o grande público… Se tudo isto já é suficientemente mau, quando assistimos na internet à proliferação de todo o tipo de “recomendações” e “especialistas” que ajudam a perder peso, torna-se realmente preocupante.

Podemos aceitar que alguém menos informado sobre Nutrição acredite ser possível perder num mês a gordura acumulada ao longo de um ano. Podemos entender que jornalistas ou bloggers sejam tentados por títulos chamativos e teorias estapafúrdias sobre dietas ou alimentos que emagrecem. Mas que haja profissionais ligados à Saúde a divulgar este tipo de milagres, já parece menos aceitável. Felizmente, a evidência existente sobre os fatores que promovem a perda de peso e sua eficácia em diferentes grupos populacionais já é suficiente para podermos orientar a nossa prática clínica com resultados e segurança para os utentes. Mesmo considerando todos os fatores que podem influenciar o peso (hormonais, farmacológicos, emocionais, sociais) é incontornável que o emagrecimento saudável depende de um balanço energético que promova a utilização de reservas de gordura acumuladas. Trata-se de um processo relativamente lento, muitas vezes difícil pela alteração de rotinas que implica – no estilo de vida atual, adequar a nossa alimentação de forma consistente ou aumentar a atividade física regularmente exige, sem dúvida, dedicação.

Então, porquê insistir nesta farsa de soluções fáceis? Não valeria mais reconhecer que perder peso de forma duradoura é, de facto, difícil (como demonstram as consideráveis taxas de retorno ao peso excessivo)? Não seria mais útil para todos assumir esta dificuldade perante quem nos procura e colocar o enfoque em encontrar soluções realistas para cada caso? Até porque a criação de uma relação de confiança é, indiscutivelmente, o primeiro passo para uma eficaz e duradoura perda de peso… E esta é uma responsabilidade que deve partir, em primeiro lugar, daqueles que conhecem a realidade melhor que ninguém – os Nutricionistas.

Rodrigo Abreu,

Nutricionista