Haverá poucas profissões em que a partir de uma mesma formação de base haja tantas e tão variadas funções desempenhadas. Efetivamente, temos nutricionistas a trabalhar em clínicas, hospitais ou centros de saúde. Em restauração coletiva, na indústria agroalimentar ou em laboratórios. Temos nutricionistas na investigação e no ensino. Nutricionistas a trabalhar com crianças, grávidas ou desportistas, tanto no combate à obesidade como à desnutrição. Toda esta variedade de funções realça bem a importância que a Alimentação e Nutrição desempenham na sociedade atual e o impacto que o nutricionista pode ter na qualidade de vida de todas as pessoas. Por tudo isto, a Nutrição tornou-se desejada para profissionais de outras áreas que não hesitam em apresentar-se como “Especialistas em Nutrição”, servindo-se desta como uma mais-valia à sua atividade. Pior, com frequência e impunidade, emitem opiniões sobre aconselhamento alimentar ou recomendações nutricionais de forma absolutamente oportunista e com riscos para a Saúde Pública. E assim temos chefs a publicitar ementas “saudáveis” sem que estas tenham qualquer avaliação nutricional; personal trainers que recomendam alimentos e suplementos “para melhorar o treino” sem enquadramento clínico ou avaliação prévia; e profissionais de saúde que no seu atendimento não hesitam em entregar uma pequena folha com uma dieta igual para todos… A recente criação da Ordem dos Nutricionistas é sem dúvida um passo importante para a defesa quer dos verdadeiros especialistas nesta área, quer do público em geral. Mas não basta esperar apenas que a Ordem fiscalize estes atentados à saúde pública – todos podemos contribuir para que a Nutrição seja tratada por quem dela entende, começando desde logo pela forma como trabalhamos. Exercer a profissão com dedicação e verdade, respeitando o Código Deontológico, é o primeiro passo. Atentar à forma como se publicitam os nossos serviços, guiar a prática profissional pela melhor evidência existente e não por “modas”, ou ser rigoroso nas áreas de diferenciação (os graus de especialista ainda não estão reconhecidos pela Ordem…) são princípios básicos da postura que se espera dos verdadeiros especialistas. Porque se não forem os nutricionistas os primeiros a tratar com respeito e verdade a sua profissão, como poderão esperar que nos distingam dos tais “artistas”?… Rodrigo Abreu, |