Nem chips de couve kale, nem pão de espelta, nem tantos outros alimentos na moda. Não é por mal, simplesmente ainda não calhou… Dei-me conta disso há uns meses atrás, após um telefonema de uma Editora – alguém que lá trabalhava tinha participado num workshop conduzido por mim e mais tarde, numa reunião onde debatiam novos projetos editoriais, lembrou-se de sugerir o meu nome para um novo livro. Conforme me explicaram mais tarde, a ideia seria lançar uma obra prática sobre gestão de peso, mas com base científica sólida. Marcámos uma reunião e correu bem: estávamos alinhados quanto ao que deveria ser um livro deste tipo. Fugir dos lugares comuns associados às dietas, recusar as modas alimentares sem fundamento científico, e oferecer ao leitor algo que fosse simples e agradável de seguir. Umas semanas depois enviei um primeiro esboço e o feedback foi positivo. Pediram-me que complementasse com alguns exemplos de planos alimentares, para apresentar estratégias práticas úteis ao leitor. Refleti sobre aquilo que a maioria das pessoas come, por exemplo, ao pequeno-almoço ou quando almoça o prato do dia numa cantina ou restaurante. Nessa lógica preparei alguns planos com alimentos e refeições comuns à maioria dos portugueses, com alguns ajustes ou cuidados para garantir um melhor equilíbrio nutricional. Mas desta vez, o feedback não foi positivo. Torradas com leite e café ao pequeno-almoço? Demasiado banal… Bifinhos de frango com arroz e salada? Vulgar! Nem o facto de os bifinhos serem marinados em molho de soja, gengibre ralado e caril verde, e o arroz basmati ser aromatizado com chá, foi suficiente para convencer o editor… Onde estava o atum braseado com sementes de sésamo e quinoa? E o que é do pequeno-almoço sem um ovo escalfado e fatias de abacate, salpicados de bagas goji?! Nem sequer um sumo de couve kale?! Percebi que estavam desiludidos… Refeições tradicionais portuguesas não são suficientemente apelativas nem diferenciadas. O seu lugar é nas revistas de culinária (até 2001, imagino…), não num livro de perda de peso em 2018. Na era do Instagram e Pinterest, à comida não basta ser saudável – tem também de ser sexy e exótica! Talvez por isso, dados recentes demonstram o crescente abandono do padrão alimentar mediterrânico. Azeitonas, castanhas, batata, lombinhos de porco preto e até mesmo vinho tinto não são presença habitual nas fotografias cheias de filtros e hashtags da maioria dos nutricionistas ou “influenciadores”. Não é fashion recomendar a alguém torradas com manteiga e um galão ao pequeno-almoço – e nem importa se o pão é de mistura, leva pouca manteiga e o açúcar no galão é para controlar… Será por isso que, apesar da abundância de mensagens de alimentação saudável, vemos tanta gente a comer mal? Estarão as pessoas encurraladas entre aquilo que aprenderam a gostar, as suas tradições, e estes novos referenciais do que é saudável? De facto, entre as dificuldades mais referidas por quem tenta perder peso estão o elevado custo económico dos alimentos “saudáveis” e a dificuldade em preparar refeições “equilibradas”. Entretanto, foi fácil chegarmos a acordo que não seria a pessoa certa para o tal livro. Não tenho nada contra crepes de tapioca com manteiga de amendoim e açaí, mas sendo português, a escrever um livro sobre alimentação e controlo de peso em Portugal, preferia valorizar aquilo que temos de bom na nossa tradição gastronómica. E há tanta coisa tão saudável e apelativa para divulgar! Rodrigo Abreu, |