“Nutricionistas são as novas pop-stars”. O título, sobre um mosaico com as fotos a preto e branco de quatro colegas, fez capa do jornal “i” no mês passado e não deixou muitos de nós indiferentes. Houve quem desde logo se insurgisse com a ideia de a profissão se tornar fútil e houve quem visse com bons olhos esta popularidade. Invadido por uma espécie de mixed feelings, nada como ler o artigo no interior do jornal para tentar formar uma opinião mais concreta. “Depois da ascensão das supermodelos, do mediatismo das atrizes e da obsessão com as atletas, as nutricionistas são as novas pop-stars” começava o artigo. Nesta altura, e até porque não conheço as colegas mencionadas no jornal, já andava a tentar perceber o que significa ao certo ‘pop-star’. Analisando à letra, ‘estrela popular’ é alguém que se destaca (estrela) pela sua popularidade (pop). Nada de incompatível, portanto, com a profissão de nutricionista. De facto, para quem andou durante tanto tempo a reclamar reconhecimento e protagonismo (no bom sentido) para a profissão, ver finalmente essa popularização da figura do(a) nutricionista, parece ser algo positivo. Também me parece positivo se a mediatização de colegas (as deste artigo ou outros) contribuir para reforçar uma consciência coletiva de que são os nutricionistas os profissionais qualificados e com autoridade para aconselhar escolhas alimentares. Como bem sabemos, eram frequentes os exemplos de pessoas sem qualquer qualificação em nutrição a recomendar produtos ou dietas, só pelo facto de serem figuras públicas. Avançando no artigo, é possível perceber algumas das razões da popularidade das colegas. Também aqui não me incomoda que alguém possa tornar-se conhecido por motivos alheio à sua atividade profissional. Não há nada de errado se alguém, por aspetos da sua vida pessoal, conquista protagonismo e o usa na promoção da sua vida profissional. Em última análise, as pessoas que procuram um(a) nutricionista poderão escolher entre o(a) colega A, porque surge em revistas “cor de rosa”, e o(a) colega B porque foi referenciado pelo Médico Assistente, por exemplo. Por si só, a popularidade não é sinónimo de mais qualidade no serviço prestado, por isso competirá sempre aos utentes da consulta escolher o perfil de nutricionista que preferem. Haverá quem escolha um(a) nutricionista por aparecer na televisão, como haverá quem não considere isso um fator relevante. Isso mesmo acontece, aliás, com muitas outras escolhas que todos fazemos nas nossas vidas – há quem compre determinado produto por o ter visto na televisão e quem compre outros por razões diferentes. Se até aqui não parece haver nada de errado em ser nutricionista e popular, há, no entanto, algo sério a considerar. Sabemos bem que se é difícil atingir um certo patamar de notoriedade, mais difícil é manter a popularidade a prazo. É um desafio constante, até porque a pressão de apresentar algo novo ou ter um discurso diferente, muitas vezes não é compatível com a cautela e prática baseada na evidência. É por isso importante salvaguardar que a popularidade não se conquista com o atropelo das boas práticas ou ao arrepio do nosso Código Deontológico. O artigo termina com algumas considerações sobre se os conselhos que abundam nas redes sociais podem substituir o aconselhamento nutricional personalizado. Sendo atualmente a oferta de nutricionistas tão alargada, parece-me que será bem-sucedido quem adotar uma abordagem competente e personalizada. E isso pode conseguir-se tanto no consultório como nas redes sociais, de forma mais discreta ou com impacto mediático. Talvez por isso, depois de ler o artigo fiquei com poucas dúvidas: se as novas ‘pop-stars’ que “têm consultórios, horários e vestem bata branca” seguirem as boas práticas da nossa profissão, o protagonismo destas e de outros colegas só pode ser benéfico para todos. Rodrigo Abreu, |