… que se apanham moscas, diz o ditado. Vem isto a propósito das notícias que ultimamente temos visto nos diferentes meios de comunicação social. Quem abra os jornais ou veja os noticiários na televisão, fica com a impressão que os nutricionistas andam zangados. Segundo as notícias, os nutricionistas acham que o estado da alimentação dos portugueses é uma desgraça, são precisos (mais) impostos para nos ensinar a comer, e há um conjunto de vilões empenhados em que comamos mal, desde as cantinas escolares até aos alimentos cheios de gordura, sal e açúcar. Confesso que, para um otimista como eu, é difícil ler estas notícias. De facto, não me agrada a ideia de ter uma fatia crescente da população a quem os nutricionistas parecem ser cada vez mais os chatos que criticam tudo o que se come, os carrascos que defendem impostos ou os lobistas que reclamam empregos no Estado. Poderá o nosso tom, alarmante e negativo, alterar a perceção da nossa profissão? E será desta forma que conseguimos as mudanças necessárias e desejadas por todos nós, com vista a populações com melhores hábitos alimentares? A comunicação negativa, isto é, o discurso alinhado por emoções negativas é frequentemente utilizado quando se pretende impacto para alguma causa. São sobejamente conhecidos exemplos em que o medo foi utilizado em política, como meio para justificar determinados atos ou opções. Mas funcionará esta estratégia para a alimentação, algo que fazemos diariamente ao longo de toda a vida, por inevitável necessidade? Consigo compreender que se opte por uma comunicação negativa em relação ao tabaco, por exemplo. Fumar é um ato acessório, não essencial e sempre prejudicial à vida. Comunicar negativamente (imagens chocantes nos maços, campanhas sobre os malefícios do tabaco, reclamar aumento de impostos, etc.) sobre algo tão negativo pode resultar na redução ou eliminação de algo absolutamente desnecessário. Mas comer é muito diferente de fumar! E, ao contrário do tabaco, em que a comunicação se destina aos que fumam ou podem vir a fumar, comunicar sobre alimentação tem impacto em toda a população, pois todos temos de comer. É necessário, pois, pensar de que forma podemos modular escolhas alimentares mais benéficas para as nossas populações, sem recorrer ao medo nem ameaça de castigos. Já no século XVI, escrevia Maquiavel na sua obra “O Príncipe” que «nunca foi sensata a decisão de causar desespero nos homens, pois quem não espera o bem não teme o mal». É uma lição importante quando se procura sensibilizar aqueles que têm comportamentos alimentares menos adequados, aqueles que em teoria podem esperar um futuro menos saudável. Ameaçar com doenças cardiovasculares quem come “mal” sem oferecer uma solução em troca, é claramente insuficiente para a adoção de novos hábitos mais saudáveis. Se é para tirar sal, açúcar ou gordura da alimentação de alguém, pelo menos sejamos capazes de dar algo em troca! Nós, nutricionistas, podemos como ninguém oferecer alternativas igualmente recompensadoras, mas mais saudáveis. Sabemos como se podem converter hábitos prazerosos, mas menos saudáveis, em rotinas agradáveis e fáceis de adotar. Podemos proporcionar uma recompensa tão imediata quanto possível e não apenas uma esperança vaga e distante de mais anos de vida ou uma velhice melhor. Então, porquê basear o nosso discurso apenas nos aspetos negativos? Não temos muito mais a ganhar com uma comunicação positiva? Com todo o conhecimento que temos, podemos oferecer muito mais que apenas medo ou ameaças. Afinal de contas, não raras vezes essas são as armas dos preguiçosos, dos incompetentes ou dos mal-intencionados. Rodrigo Abreu, |