Lições de Oklahoma 691

A história não é recente e conta-se de forma simples – em 2007, o Mayor de Oklahoma City vê numa revista que a sua cidade é considerada uma das com piores hábitos alimentares dos EUA e também uma das com maiores índices de obesidade. Simultaneamente, Mick Cornett, confronta-se com a sua própria obesidade e decide passar à ação. Na véspera de Ano Novo, em frente ao elefante do zoo local, lança o desafio a Oklahoma: juntos, os habitantes tentarão emagrecer um milhão de libras, qualquer coisa como 453.500 quilos, numa população de cerca de 600 mil pessoas, das quais cerca de um terço era obesa.

A cifra foi atingida mais depressa do que o esperado. Em 2012, 47 mil pessoas tinham perdido uma média de 9 kg cada. Todos participaram: as igrejas organizaram grupos de caminhada, as empresas criaram concursos para incentivar os seus colaboradores a perder peso, as escolas começaram a abordar temas de nutrição e alimentação, e os restaurantes começaram a competir para apresentar pratos saudáveis. Esta é uma das primeiras lições de Oklahoma: criar um objetivo comum, envolver toda a comunidade e seus agentes, recorrendo sempre a mensagens positivas.

A segunda grande lição de Oklahoma é o facto de todos terem sido envolvidos, com o enfoque na procura de soluções e não na diabolização dos problemas. Foram identificadas as áreas onde os indicadores de saúde eram piores (que eram também as zonas com maiores problemas socioeconómicos) e envolveram-se as organizações e líderes locais. Voluntários chegaram a ir porta a porta falar com as famílias e foram criados centros locais onde as pessoas podiam aprender a cozinhar refeições mais saudáveis, levantar lunch-boxes nutricionalmente equilibradas e utilizar roupa e calçado para a prática de atividade física. Os profissionais de saúde criaram uma rede de locais para atendimento de obesos, com aconselhamento alimentar e apoio médico a todos os que pretendiam aderir ao programa. As cadeias de restauração também aderiram ao desafio e lançaram menus mais equilibrados para facilitar as escolhas saudáveis. Por fim, e não menos importante, a própria cidade começou a ser redesenhada, com a supressão de faixas para os automóveis e a criação de espaços verdes, ciclovias, percursos pedonais e múltiplas infraestruturas para a prática de atividade física e desporto, tanto amador como profissional.

E de onde veio o dinheiro para tudo isto? A terceira lição desta história é que o Estado e as entidades públicas nunca terão dinheiro suficiente para pagar na totalidade programas desta natureza. Em Oklahoma apenas um sexto do valor da fatura veio de fundos públicos, sendo o restante suportado por entidades privadas, através de parcerias público-privadas. Em vez de optar exclusivamente por arrecadar receita através de mais taxas ou impostos, incentivaram-se os privados a apoiar diretamente projetos específicos, o que acabou também por gerar mais emprego e atrair mais empresas.

Por fim, os resultados. A última lição desta história é que reverter um problema tão complexo como a obesidade, demora tempo. Em 5 anos, Oklahoma desacelerou o crescimento da obesidade de 6 para 1% ao ano. Porém, mesmo com uma intervenção tão abrangente e com tantas mudanças positivas a acontecer, o número de obesos ainda continua a crescer… Mas num mundo onde nenhum país conseguiu reverter o crescimento da obesidade (segundo dados publicados no Lancet em 2014), podemos aprender muito com as lições de Oklahoma.

Rodrigo Abreu,
Nutricionista