Leituras de Verão 681

Como muitos portugueses, tive oportunidade de aproveitar alguns dias de agosto para descansar e pôr a leitura em dia. Na sombra da praia ou no fresco das noites de verão, aproveitei as férias para ler alguns livros que tinha reservado e “limpar a cabeça” de trabalho. Mas inevitavelmente acabei a ler também alguns blogues e a navegar por páginas de Nutrição.

Foi assim que fiquei a saber por uma farmacêutica que devíamos todos beber água do mar, seguindo, claro, uma série de preceitos. Conheci também uma chef que segue (e recomenda) uma dieta de eliminação e um médico que desaconselha a todos o glúten, a caseína e muitas outras coisas – o que no fundo também equivale a uma dieta de eliminação… Por fim, tive tempo para ler as explicações de uma apresentadora de televisão sobre os benefícios de certos minerais (na forma de suplementos alimentares) e ainda tentei ouvir até ao fim uma meditação para emagrecer.

Comprova-se assim a sabedoria popular quando diz que “de médico e de louco, todos temos um pouco”. Podiam ser apenas disparates de verão, daqueles que nos fazem rir e dão vontade de mostrar aos amigos, mas infelizmente duram o ano inteiro. Podiam ser apenas opiniões (porque não estão sustentadas nem explicadas) partilhadas entre amigos ou conhecidos, mas somando o alcance de todas estas publicações, provavelmente estaremos a falar de dezenas de milhares de pessoas.

Ouço muitas vezes dizer que a internet, e as redes sociais em particular, vieram dar voz aos ignorantes e tempo de antena aos discursos de raiva ou maledicência. Na verdade, os canais digitais vieram dar a todos a possibilidade de cada um se fazer ouvir. E foi por isso que, depois de ler tanto disparate, dei por mim a pensar se não haveria ninguém a publicar informação de qualidade sobre os temas de Nutrição. Felizmente há! Muitos! Portugueses e estrangeiros. Sobre Nutrição Clínica, sobre Nutrição no Desporto, sobre Políticas Nutricionais e Alimentares. Há gente que pensa e que analisa, e que para além disso, decide ainda dedicar tempo a trabalhar esse conhecimento de forma a ser partilhado, de graça, para quem queira ler ou ouvir.

Há apresentações fantásticas transpostas para vídeos no YouTube. Há infografias que resumem espetacularmente processos de Nutrição ou Fisiologia, por vezes complexos ou mais difíceis de sistematizar. Há quadros e textos que resumem brilhantemente meta-análises ou revisões sistemáticas riquíssimas em informação válida e útil na prática diária. E, repito, tudo isto está muitas vezes disponível de forma gratuita e ao alcance de apenas uns cliques.

Com tanto conteúdo de qualidade, decidi aproveitar o tempo livre das férias para procurar e começar a seguir autores que se dedicam a essa nobre tarefa de divulgar conhecimento científico de qualidade. Para quem não cobra um cêntimo por esse trabalho, que melhor recompensa do que aumentar o seu número de seguidores ou subscritores. Haverá melhor reconhecimento que partilhar os seus conteúdos, fazendo, claro, referência aos seus autores? Se não temos capacidade, tempo ou disponibilidade para produzir este tipo de informação, podemos pelo menos contribuir para a sua difusão. Afinal, espera-se de nós, nutricionistas, que sejamos um exemplo na análise crítica da informação e um veículo de promoção de mensagens válidas. Não que andemos a espalhar mitos e boatos ou textos de autoria desconhecida e conteúdo duvidoso…

Rodrigo Abreu,
Nutricionista