Uma das maravilhas da paternidade são aqueles momentos em que os filhos nos perguntam de quando nós “éramos pequeninos”. A curiosidade das crianças em saber o que nós fazíamos quando tínhamos a idade delas, leva-nos a revisitar a nossa infância e, muitas vezes, a perceber como o mundo tem mudado de forma drástica. Com a minha filha mais velha na “idade dos porquês”, há várias coisas que dou por mim a tentar explicar-lhe da melhor forma possível. Por exemplo, parece difícil acreditar (e não só às crianças) que durante muito tempo vivemos com apenas dois canais de televisão! Para as minhas filhas (e tantas crianças hoje em dia) é normal ter 4 ou 5 canais infantis a transmitir desenhos animados 24 horas por dia! Por isso é difícil explicar que no “meu tempo” a televisão não tinha sequer cores e que desenhos animados, só ao fim de semana. Não havia “box” para escolher o que ver, quando quiséssemos! De facto, muita coisa mudou desde o “meu tempo”. Quando íamos almoçar ou jantar fora, os pais não tinham telemóveis nem tablets para “sossegar” as crianças à mesa. Se estávamos mais impacientes, podíamos correr à volta das mesas (conforme o sítio…), brincar na rua, conversar com os nossos pais ou, talvez, pintar alguma coisa se o restaurante tivesse uns lápis de cor (ou se a mãe se tivesse lembrado de os levar). Outra mudança impressionante é a atual variedade de alimentos, que não havia no “meu tempo”. Tendo vivido fora do país parte da minha infância, lembro-me de ter saudades de comer manga e feijão preto quando voltei a Portugal. Hoje em dia, estes alimentos (e tantos outros!) estão à disposição o ano inteiro em qualquer supermercado. Lembro-me também da excitação que era comer os primeiros morangos do ano, quando chegava o mês de maio! E, apesar de viver na cidade, lembro-me da alegria que era descascar ervilhas, quando era a época. Hoje, as minhas filhas (e a maioria de nós!) tiram as ervilhas do congelador e vêm morangos praticamente o ano inteiro! De facto, muita coisa mudou e ainda bem! A disponibilidade de alimentos que temos atualmente é algo indiscutivelmente positivo, mesmo que tenhamos de reconsiderar a forma como estes alimentos são produzidos e chegam até nós. Ainda que por vezes nos queixemos de que os alimentos hoje não têm o sabor de antigamente, é claramente positivo que tenhamos acesso a tão variado leque de comida. E se pensarmos nas tecnologias, nem vale a pena imaginar um mundo em que não tenhamos à disposição as vantagens proporcionadas por smartphones, TVs ligadas à internet e outros gadgets sem os quais não conseguiríamos simplificar ou desfrutar tanto a nossa vida. No entanto, este aumento brutal na variedade de escolhas, traz consigo uma responsabilidade acrescida. Deixou de ser a natureza, no seu ritmo e ciclos, a determinar exclusivamente o que comemos. As decisões sobre o que comer passaram a ser nossas e isso implica educação, envolvimento e consciência. Depois de uma geração que teve de lutar para garantir o sustento alimentar, o desafio atual das nossas sociedades é capacitar os indivíduos a escolher o que é mais adequado para as necessidades e desejos de cada um. É um erro alimentar o discurso de “no meu tempo é que era bom”. Precisamos aproveitar o que o passado nos deixou, mas devemos olhar para a frente e começar desde já a imaginar as soluções que o futuro nos pede! Neste cenário, não tenho dúvidas, os Nutricionistas terão um importante papel a desempenhar. Rodrigo Abreu, |