Pão pão, Queijo queijo 660

Nos filmes, os vilões existem para personificar o “Mal” e permitir o surgimento de um herói que lute para fazer vencer o “Bem”. É uma sequência simples, mas que não falha e que filme após filme, continua a cativar as audiências! Afinal, quem não quer que o “Bem” ganhe sempre?

Na Nutrição passa-se algo de semelhante. Desde há vários anos que se vão criando vilões, alimentos ou nutrientes que personificam tudo o que pode haver de mau no ato de comer – engordam, causam cancro ou matam, no fundo tudo aquilo que não queremos e de que temos medo! Lembro-me da verdadeira guerra às gorduras que começou ainda nos anos 80, que ditava a sua exclusão do prato e originava capas de revista. Afinal, hoje as gorduras já não são todas más e até a revista “Time” publicou uma sugestiva capa com o título “Eat Butter”… Depois veio o sal, outro malvado que era (e é) preciso combater. Mais recentemente, é o açúcar o responsável por todos os males na nossa alimentação. Pelo meio, outros vilões, porventura mais pequenos, como o leite, o glúten ou os adoçantes, todos diabolizados com os mais diversos argumentos…

Julgo que aprendemos todos na Faculdade, e bem, que os alimentos em si não são “bons” ou “maus”. Há alimentos para comer mais vezes ou em maior quantidade e outros para comer em menor quantidade ou com menos frequência. E é isto que devemos ser capazes de explicar às pessoas, ensinando-as a gerir escolhas de uma forma personalizada (e não padronizada). Dá trabalho e demora tempo, é certo, mas parece não haver muitas dúvidas de que é o caminho a seguir. Sem capacitar as populações para fazerem escolhas mais informadas, não será possível reverter a atual onda de obesidade e doenças associadas. Pelo contrário, diabolizar alimentos, comparando-os com o tabaco ou chamando-os de veneno, serve apenas para desinformar, assustar e produzir resultados imprevisíveis – ao evitar certos alimentos, as pessoas podem alterar os seus padrões de consumo, fazendo com que no final a sua alimentação seja ainda mais desequilibrada! Para além de dessensibilizar as pessoas para este tipo de mensagens, o que leva à descredibilização dos profissionais de saúde…

É certo que abundam nos jornais e TV’s “especialistas” (muitas vezes sem qualquer formação em Nutrição!) a bradar contra os vilões do prato, talvez apenas em busca de protagonismo próprio ou apenas porque este tipo de notícias gera audiências. Os vilões cumprem assim um papel muito útil a estes “heróis” e por isso quanto mais assustadores forem, melhor. Mas os verdadeiros heróis são aqueles(as) nutricionistas que no seu dia a dia, em consulta, nas escolas ou na investigação clínica de qualidade, fazem um trabalho silencioso, mas de valor inestimável, para que todos aprendamos a comer melhor, conciliando prazer e saúde à mesa. Sem radicalismos, com muita paciência e com grande dedicação a esta nobre tarefa de vencer o verdadeiro “Mal” que é a desinformação e a iliteracia em saúde.

Rodrigo Abreu,

Nutricionista