Há alguns anos, estava a desenvolver um projeto de promoção de saúde e bem-estar no local de trabalho para uma grande multinacional e fui convidado para o seu jantar de Natal. Durante a receção, a diretora de RH com quem trabalhava diretamente foi-me apresentando várias pessoas de outros departamentos, que eu ainda não tinha conhecido durante o projeto. Uma delas foi o contabilista responsável pela área financeira, um senhor mais pesado que, ao saber que eu era Nutricionista, retorquiu: “Nutricionista? Isso não são aqueles tipos chatos que nos dizem o que temos de comer?”. Perante o desconforto da minha interlocutora, pus o meu melhor sorriso e respondi que sim, mas que ainda assim era uma profissão mais simpática do que dizer às pessoas os impostos que têm a pagar. O episódio marcou-me, não pelo embaraço da situação, mas porque me deixou a pensar que ser Nutricionista significa muitas vezes transmitir mensagens que são sentidas de forma negativa. E que há quem antipatize connosco por causa disso. De facto, não raras vezes, deparamo-nos com utentes da consulta com hábitos alimentares péssimos. Horários descontrolados, refeições feitas à pressa ou frente à televisão, sedentarismo ou escolhas alimentares bastante desequilibradas são situações comuns em consulta e que exigem de nós uma chamada de atenção. Mas como reagem as pessoas às nossas “correções”? Partimos do principio de que quem vai à Consulta quer mudar alguma coisa, mas estarão todos os nossos clientes realmente preparados para ouvir o que temos para lhes dizer? Seguir uma alimentação saudável é algo que nós, Nutricionistas, vemos como óbvio e quase obrigatório. Por isso, tendemos a achar impensável que alguém não esteja disposto a mudar os seus hábitos alimentares com vista a melhorar os seus níveis de colesterol ou perder algum peso. No entanto, para muitas pessoas, comer continua a ser sobretudo um ato de prazer, determinado por fatores sociais, económicos ou situacionais. É por isso normal que possam reagir menos bem quando os confrontamos com as mudanças que têm de fazer – mesmo que sejam motivadas por razões de saúde. E mais: apesar de vivermos numa época em que a promoção da alimentação saudável é vista de forma quase consensual como algo positivo e necessário, a verdade é que ainda há muitas pessoas que não querem receber conselhos sobre o que devem ou não comer! Tudo isto nos deve ajudar a refletir no conteúdo e forma das mensagens que transmitimos. Que esforço é sensato pedir a quem precisa perder peso? Como “pedir” esse esforço? Há algo que possamos dar em troca? Não havendo uma resposta única porque cada caso é um caso, a verdade é que vale a pena dedicarmos o nosso tempo e talento a trabalhar as mensagens que temos de passar no desempenho das nossas funções. Porque, por muito errados que estejam os que querem matar o mensageiro, somos nós e a profissão quem perde sempre que a mensagem não é entendida corretamente. Rodrigo Abreu, |