Ser Nutricionista é muitas vezes difícil, já que temos de lidar com um conjunto particular de situações. Há as pessoas que querem perder demasiado peso em pouco tempo, há aquelas que levam demasiado tempo a perder pouco peso e depois há as pessoas que simplesmente não estão dispostas a mudar os seus hábitos, apesar de irem à consulta. Mas talvez o maior desafio de todos nos suceda quando despimos a bata ou estamos já fora do consultório… Quando chega a nossa hora de comer, o que escolher? Sobretudo, se estivermos acompanhados ou se houver a possibilidade de alguém conhecido se cruzar connosco. Realmente, só os Nutricionistas sabem como é sentir-se alvo de escrutínio permanente no momento das refeições. Almoço no local de trabalho? Todos vão reparar, de forma mais ou menos discreta, no nosso prato; Jantar com os amigos? Não vão faltar as perguntas “inocentes” sobre este ou aquele alimento; refeição em família? Lá vem algum parente pedir conselhos para emagrecer ou baixar o colesterol! Com o tempo, acabamos por nos habituar a lidar com isto e criamos as nossas defesas. Mas de todas as situações, talvez a mais incómoda seja quando alguém nos pergunta: “Mas tu comes isso?”. “Eu só sou Nutricionista até às 7 da tarde!” ou “Eu só como isto porque hoje de manhã gastei o dobro no ginásio” são frases simples que, acompanhadas de um sorriso, chegam para pôr fim às perguntas mais insistentes na maioria das vezes. Porém, a resposta real é mais complexa e nem sempre é o momento para uma explicação completa… A alimentação saudável é hoje uma preocupação para muitas pessoas e é por isso normal que os Nutricionistas sejam olhados como a referência, o exemplo a seguir no que respeita às melhores escolhas alimentares. Espera-se que nas mais diversas situações sejamos capazes de compor o prato da forma mais correta e os nossos “lanchinhos” são observados com atenção, em busca das melhores soluções para uma merenda a meio da tarde. Mas convém não esquecer que a alimentação não tem de ser apenas saudável. Comer é também um ato de prazer e de socialização! Numa época em que as mensagens para “comer melhor” estão por todo o lado (basta ver a quantidade de sites na internet que divulgam “conselhos” alimentares como forma de se afirmarem pela positiva), cabe-nos a nós relembrar que comer não é só “fazer dieta”. Porque mesmo sendo possível conciliar prazer e equilíbrio, a verdade é que haverá sempre momentos em que aquilo que vamos escolher não é nutricionalmente adequado. De facto, à obsessão crescente em ser saudável (que leva um cada vez maior número de pessoas às nossas consultas), convém sabermos responder que a “saúde” é apenas parte de um bem maior, o “bem-estar”. Não são raros os casos em que indicações nutricionais ou crenças individuais levam a padrões alimentares mais restritivos – as dietas sem leite, sem glúten, vegan ou paleo são hoje adotadas por muitas pessoas, com mais ou menos critério. Mas se pensarmos em todas as privações a que estas pessoas estão sujeitas, não estaremos a correr o risco de criar uma série de “saudáveis infelizes”? É por isso que a totalidade das nossas recomendações alimentares não tem de estar sujeita apenas a critérios de saúde. Haverá situações em que devemos saber prescrever também a exceção – pelo prazer e pelo convívio, mas sobretudo sem culpa! Rodrigo Abreu, |