Pão pão, Queijo queijo 837

2017-01-03

Mais um ano que começa e, mais uma vez, o chorrilho habitual de resoluções para uma vida melhor! Fazer exercício, viajar, ter tempo “para mim”, perder peso… Não é por acaso que janeiro regista um pico de Consultas de Nutrição. Pelos mais diversos motivos (aparência, saúde, qualidade de vida…) são muitas as pessoas que procuram um(a) Nutricionista nestes primeiros dias do ano. Mas, que respostas encontram? Que têm os(as) Nutricionistas para lhes dizer?

Até há uns anos, o discurso do(a) Nutricionista para a perda de peso não tinha grandes segredos. As dietas de emagrecimento eram hipocalóricas, pobres em gordura (sobretudo saturada) e açúcar. Poderiam ter algumas considerações para reduzir a ingestão de sal, talvez se permitisse uma exceção por semana e… pouco mais. Eram os chamados “tempos da Bolacha Maria”, em alusão à prescrição daquele tipo de bolacha como exemplo de algo neutro para incluir numa dieta. Verdade seja dita, naquela época não havia muito mais opções de bolachas…

Seguiram-se tempos promissores, com a proliferação da oferta alimentar e novos conhecimentos nas Ciências da Nutrição. O discurso tornou-se mais abrangente, considerando os vários fatores envolvidos na obesidade, e deixou de haver alimentos “bons” ou “maus” – apenas alimentos que devíamos comer “mais” e outros “menos”. A Roda dos Alimentos reflete isso mesmo, deixando para trás a ideia de pirâmide e “hierarquia” entre os alimentos. Com tanta escolha de iogurtes, bolachas, queijos ou cereais de pequeno almoço, todos tinham o seu lugar na alimentação, estando o foco do Nutricionista na capacitação das pessoas para serem capazes de fazer as escolhas mais adequadas para si.

Mas esta ideia de liberdade na oferta, associada a responsabilidade na escolha, durou pouco tempo. O discurso dominante entre os Nutricionistas endureceu e eis-nos na era do sem glúten, sem lactose, sem sal, sem açúcar… Escudados em Ciência e Evidência (será?), tornámo-nos peritos no “bota abaixo” e de repente todos os alimentos parecem ameaçadores. Os “tempos da Bolacha Maria” deram lugar ao “tempo das Bagas Goji”, mas até os “super alimentos” (isso existe?) estão debaixo de escrutínio. Abundam as recomendações para uma alimentação saudável, cada vez mais purista e onde não há lugar para um conjunto crescente de “vilões”, mas os números da obesidade parecem continuar a subir…

São motivos mais que suficientes para refletir na forma como abordamos quem nos procura neste início de ano. Afinal, que fazer? Endurecer o discurso? Restringir ainda mais os planos alimentares padronizados com recomendações “consensuais” e fazer figas para que sejam cumpridos? Assustar as pessoas ou atribuir-lhes a culpa em caso de insucesso? Não havendo uma resposta simples, pelo menos aproveitemos o início de mais um ano para fazer o esforço de não cair nos velhos vícios de sempre. Porque uma coisa é certa: se há cada vez mais pessoas com excesso de peso, a responsabilidade de inverter esta situação passa por nós, Nutricionistas!

Rodrigo Abreu,

Nutricionista