Menos de 5% dos 48 milhões de habitantes do Sudão conseguem pagar uma refeição completa, anunciou esta quarta-feira (21) em Bruxelas o diretor do Programa Alimentar Mundial (PAM) no país, Eddie Rowe.
A guerra que eclodiu a 15 de abril de 2023 entre o chefe do exército, o general Abdel Fattah al-Burhane, e o seu antigo adjunto, o general Mohamed Hamdane Daglo, chefe do grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF), causou a morte de mais de 13.000 pessoas, segundo os dados da organização não-governamental Armed Conflict Location & Event Data Project (ACLED), e a maior crise de deslocados do mundo.
Estes movimentos populacionais, associados a épocas agrícolas interrompidas ou nunca iniciadas e a terras queimadas pelos beligerantes, levantam agora o espetro da fome no país, um dos mais pobres do mundo.
“É um cocktail letal (…) que corre o risco de mergulhar mais milhões de pessoas numa catástrofe humanitária”, alertou Rowe, citado pela Lusa.
Cerca de 25 milhões de pessoas, mais de metade da população, necessitam de ajuda, sendo que quase 18 milhões enfrentam uma insegurança alimentar aguda, segundo as Nações Unidas (ONU).
“Cerca de cinco milhões de pessoas estão à beira da catástrofe”, a última fase antes da fome, afirmou Rowe.
Também este mês, a agência das Nações Unidas para a infância (UNICEF) declarou que “a guerra brutal” no Sudão causou a maior crise de deslocamento infantil mundial e uma desnutrição generalizada que ameaçam matar “muito mais crianças que o próprio conflito”.
A ONU necessita de 4,1 mil milhões de dólares (3,8 mil milhões de euros) para satisfazer as necessidades humanitárias da população do Sudão e dos sudaneses que fugiram para os países vizinhos.
Em dezembro, quando o estado de Al Jazira, a sul de Cartum, foi tomado pela guerra, o país perdeu o seu celeiro, explicou Rowe.
“Milhares de pequenas explorações agrícolas e mesmo explorações gigantes ficaram desertas”, prosseguiu.
“À medida que se aproxima a época de escassez” – antes das primeiras colheitas e à medida que as colheitas anteriores se esgotam -, de abril a julho, a fome “vai piorar”, advertiu.
Com a escassez, as telecomunicações cortadas e as transações financeiras praticamente paradas, o país “está à beira do colapso”, alertou.