Com o envelhecimento progressivo da população, a osteoporose tornou-se uma das doenças mais prevalentes do mundo. Esta doença metabólica do esqueleto caracteriza-se pela diminuição da massa óssea e pela deterioração da microarquetetura do osso. Isto traduz-se no aumento da fragilidade óssea e, consequentemente, no risco aumentado de fratura de fragilidade [1].
As fraturas de fragilidade podem ocorrer espontaneamente ou após um traumatismo menor, que não seria suficiente para fraturar um osso saudável [2]. Estas estão associadas a um aumento de mortalidade, e a uma redução acentuada da qualidade de vida e autonomia do doente [1]. A nível mundial, estima-se que ocorra uma fratura de fragilidade a cada 3 segundos. Assim, o principal objetivo do tratamento da osteoporose é prevenir a ocorrência deste tipo de fraturas.
Atualmente, a osteoporose é diagnosticada com base na medição da Densidade Mineral Óssea (DMO), e a probabilidade de ocorrência de fraturas de fragilidade é calculada através da ferramenta FRAXPort. No entanto, estes métodos apresentam várias limitações, e muitas vezes a osteoporose só é diagnosticada após a ocorrência de uma fratura de fragilidade.
Deste modo, a identificação precoce dos doentes com osteopenia (estádio que antecede a osteoporose) através da monitorização da DMO, e a implementação de medidas não farmacológicas, são cruciais para mitigar o progresso da doença e a fratura subsequente. Estas medidas passam pela promoção da exposição solar, da atividade física e do padrão alimentar mediterrânico, com particular atenção ao consumo de cálcio, vitamina D e fibra (modulador do microbiota intestinal), e evitando o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, de cafeína e de sódio [1,3].
Nos últimos anos, a utilização de marcadores de remodelação óssea (MRO) como potenciais preditores da fratura de fragilidade têm sido bastante discutidos. Estes marcadores podem ser medidos no sangue ou na urina, e permitem avaliar a dinâmica da formação e reabsorção óssea – relacionada com a atividade dos osteoblastos e osteoclastos, respetivamente. São exemplos de marcadores de formação óssea a osteocalcina, propeptídeos de colagénio do tipo I e a isoforma óssea da fosfatase alcalina. Os marcadores de reabsorção óssea incluem a hidroxiprolina, o telopéptido na região aminoterminal do colagénio tipo I, o telopétido na região carboxiterminal do colagénio tipo I, desoxipiridinolina, a enzima fosfatase ácido tartarato resistente, entre outros [4-6].
Vários estudos reportam que níveis elevados dos MRO estão associados a um risco aumentado de fraturas de fragilidade. Assim, estes marcadores aparentam ser úteis na identificação do risco de fratura. Comparativamente à avaliação da DMO, os MRO apresentam várias vantagens, pois a medição da DMO, de forma isolada, não reflete o risco de fratura de fragilidade, e a sua utilização implica um intervalo entre medições superior a 1 ano. Adicionalmente, a medição dos MRO é relativamente barata, não invasiva e mais conveniente para o doente [6,7].
Relativamente à monitorização da terapêutica, existe uma correlação negativa entre os níveis dos MRO 3 a 6 meses após o início do tratamento e o ganho de massa óssea. Deste modo, estes marcadores permitem avaliar precocemente o grau de sucesso na resposta à terapêutica instituída, o que permite a sua otimização também de forma precoce [6,7].
Não obstante, a sua utilização na prática clínica não é consensual. Do ponto de vista analítico, a medição dos MRO está sujeita a uma série de variações diurnas e sazonais, o que coloca em causa a sua aplicabilidade. Para além disso, os MRO refletem as alterações no metabolismo ósseo, independentemente da causa subjacente, e dependem de vários fatores biológicos, como a idade, a presença de comorbilidades (quadro clínico do doente), e a etnia. Posto isto, a interpretação destes marcadores deve basear-se em intervalos de referência específicos, e não dispensa a medição da DMO [4,6,7].
Em suma, os MRO parecem ser promissores na 1) identificação dos doentes em risco de fratura de fragilidade, possibilitando o reforço das medidas de prevenção farmacológicas e não farmacológicas neste grupo de doentes, e na 2) monitorização da terapêutica instituída. No entanto, são necessários mais estudos para validar a sua utilização na prática clínica, e para compreender os múltiplos fatores que conduzem às variações que têm vindo a ser reportadas na literatura.
Catarina Rodrigues – 4166N
Mestre em Nutrição Humana e Metabolismo pela NMS-UNL
Investigadora Comprehensive Health Research Centre (CHRC)
Referências:
- Rodrigues, A.M.; Canhão, H.; Marques, A.; Ambrósio, C.; Borges, J.; Coelho, P.; Costa, L.; Fernandes, S.; Gonçalves, I.; Gonçalves, M., et al. Portuguese recommendations for the prevention, diagnosis and management of primary osteoporosis – 2018 update. Acta reumatologica portuguesa 2018, 43, 10-31.
- Borgström, F.; Karlsson, L.; Ortsäter, G.; Norton, N.; Halbout, P.; Cooper, C.; Lorentzon, M.; McCloskey, E.V.; Harvey, N.C.; Javaid, M.K., et al. Fragility fractures in Europe: burden, management and opportunities. Archives of Osteoporosis 2020, 15, 59, doi:10.1007/s11657-020-0706-y.
- Malmir, H.; Saneei, P.; Larijani, B.; Esmaillzadeh, A. Adherence to Mediterranean diet in relation to bone mineral density and risk of fracture: a systematic review and meta-analysis of observational studies. European journal of nutrition 2018, 57, 2147-2160, doi:10.1007/s00394-017-1490-3.
- Migliorini, F.; Giorgino, R.; Hildebrand, F.; Spiezia, F.; Peretti, G.M.; Alessandri-Bonetti, M.; Eschweiler, J.; Maffulli, N. Fragility Fractures: Risk Factors and Management in the Elderly. Medicina (Kaunas) 2021, 57, 1119, doi:10.3390/medicina57101119.
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