Os nutricionistas “têm a capacidade de contaminar positivamente a sociedade” 1884

Praticamente um ano após as eleições para o primeiro mandato dos Conselhos de Especialidade da Ordem dos Nutricionistas (ON), referente ao quadriénio 2022-2026, realizou-se o 1.º Encontro Nacional dos Nutricionistas Especialistas. O evento decorreu ontem, dia 28 de setembro, em formato online.

Na sessão de abertura, a bastonária da ON lembrou que o processo que levou à implementação das especialidades, iniciado em 2020, foi “intenso e trabalhoso”. A propósito deste encontro, organizado pelos Conselhos de Especialidade da ON, Alexandra Bento referiu que “é uma iniciativa que muito nos deve orgulhar a todos nós, é um momento que certamente se configura como a materialização de um caminho até agora trilhado, no sentido de um maior reconhecimento e diferenciação da nossa profissão”.

Logo de seguida, Carla Lopes, Graça Ferro e Helena Ávila deram a conhecer as atividades desenvolvidas e previstas pelos três Conselhos de Especialidade da ON, expondo ainda os desafios, as estratégias e as ações.

Carla Lopes, presidente do Conselho de Especialidade de Nutrição Comunitária e Saúde Pública, mencionou que os Conselhos de Especialidade da ON, que à data somam 721 especialistas, estão empenhados em “desenvolver atividades que apoiem a diferenciação e a excelência do exercício profissional”. O Colégio de Especialidade que preside conta com 121 especialistas, o que a levou a admitir que “somos ainda poucos”.

Graça Ferro, presidente do Conselho de Especialidade de Nutrição Clínica, o mais representativo entre a classe, totalizando 486 especialistas, destacou a articulação com as outras especialidades atribuídas pela ON, até porque “se caminha, na saúde, para um novo modelo, a partir do próximo ano, de Unidades Locais de Saúde (ULS), em que há uma integração de cuidados na saúde e sem dúvida que estes três Colégios de Especialidade alinham-se, perfeitamente, nesta filosofia de cuidados de saúde primários, cuidados hospitalares, cuidados continuados”.

A fechar o périplo, Helena Ávila, presidente do Conselho de Especialidade de Alimentação Coletiva e Restauração, classificou este encontro como “um momento histórico para a profissão de nutricionista em Portugal” e, simultaneamente, “um dia para o futuro”, fazendo referência ao facto de o mesmo terminar com a elaboração de uma carta de compromisso. A responsável revelou que cerca de 50% dos nutricionistas especialistas inscreveram-se neste certame, o que «muito nos orgulha», partilhou. De acordo com dados divulgados, o Colégio de Alimentação Coletiva e Restauração é aquele que apresenta menos especialistas, somando 114. Assim, existem apenas 1,1 especialistas por 100 mil habitantes. “Temos de trabalhar bastante nesta especialidade e na entrada de novos especialistas”, apontou.

Concluídas as apresentações, avançou-se para um painel dedicado à reflexão sobre o que a sociedade espera dos nutricionistas especialistas, contando para o efeito com cinco convidados externos à profissão. Todos eles, sem exceção, defenderam uma colaboração mais efetiva entre os vários profissionais de saúde, alertando ainda que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) não tem nutricionistas suficientes para responder às necessidades da população.

Adalberto Campos Fernandes, professor da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa (ENSP/UNL), manifestou a sua satisfação pela criação das especialidades por parte da ON. “Hoje em dia, não apenas na área da nutrição, mas em todas as áreas profissionais da saúde, a densificação das competências pressupõe que existe uma especialização dos saberes”, anotou. Dirigindo-se à assistência, que durante a manhã chegou a ultrapassar os 150 participantes, o ministro da Saúde do XXI Governo Constitucional (2015-2018) frisou que “vocês têm a capacidade de contaminar positivamente a sociedade, porque estão presentes em muitos domínios”.

Filipa Melo de Vasconcelos, subinspetora-geral da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), falou da necessidade de incremento de nutricionistas na Especialidade de Nutrição Comunitária e Saúde Pública, para “desenvolverem, estimularem, conseguirem convencer que cada euro investido em política pública tem um efeito multiplicador na saúde da população extraordinário”.

Este painel contou ainda com as intervenções de Davide Carvalho, médico, presidente da European NeuroEndocrine Association (ENEA) e professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), Paulo Alves, enfermeiro, diretor da Escola de Enfermagem do Porto e diretor adjunto do Instituto de Ciências da Saúde (ICS) da Universidade Católica Portuguesa (UCP), e Paulo Sousa, presidente do conselho de administração do Serviço de Utilização Comum dos Hospitais (SUCH).

No período da tarde, os trabalhos prosseguiram com três sessões paralelas, uma para cada Conselho de Especialidade, nas quais os participantes expuseram o que esperam do seu Conselho de Especialidade. Foram ainda apresentados os resultados da auscultação aos nutricionistas especialistas, seguindo-se um debate entre os intervenientes. O evento terminou com uma sessão plenária, marcada pelo sumário da discussão das sessões paralelas e pela leitura da carta de compromisso anteriormente referida.

Não perca a reportagem completa do 1.º Encontro Nacional dos Nutricionistas Especialistas na próxima edição da revista VIVER SAUDÁVEL (n.º 86, novembro / dezembro de 2023).