Cerca de 214.000 pessoas vivem atualmente em situação de fome na Somália, um número que poderá quase triplicar para 727.000 até meados do próximo ano, advertiu esta terça-feira (13) o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA).
O último relatório do IPC (Classificação de Fase Integrada, amplamente aceite para descrever a gravidade das emergências alimentares) sobre a Somália, divulgado esta terça-feira, “não leva a uma declaração de fome nesta fase, em grande parte devido à resposta das organizações humanitárias e das comunidades locais”, disse um porta-voz da Organização das Nações Unidas (ONU), Jens Laerke, numa conferência de imprensa regular em Genebra, citado pela Lusa.
As respostas encontradas são, contudo, insuficientes, uma vez que as pessoas continuam a morrer à fome e a situação pode piorar já em abril de 2023, segundo as Nações Unidas. “Se a assistência não for intensificada, particularmente nos setores da saúde e água, saneamento e higiene, prevê-se a ocorrência de fome entre abril e junho de 2023 no sul da Somália entre os agropastoris nos distritos de Baidoa e Burhakaba, e entre as populações deslocadas na cidade de Baidoa e Mogadíscio”, disse Laerke.
Globalmente, as conclusões do relatório mostram que, durante este período, a crise alimentar na Somália irá agravar-se e expandir-se, com uma estimativa de 8,3 milhões de pessoas classificadas como “em crise” (IPC Fase 3) ou pior, em comparação com os 5,6 milhões atualmente. Espera-se que o número de pessoas que atingirá a Fase 5 (Catástrofe) – o nível mais elevado na escala IPC – mais do que duplique durante este período, de 214.000 para 727.000.
Espera-se também que cerca de 2,7 milhões de pessoas estejam na Fase 4 (Emergência) até abril-junho do próximo ano. Esta fase caracteriza-se por um consumo alimentar grosseiramente inadequado, resultando numa desnutrição aguda muito elevada e mortalidade excessiva. Isto significa que as pessoas estão a morrer à fome, explicou Laerke. O relatório, divulgado pelas Nações Unidas e outros peritos, revelou que mais de 8 milhões de pessoas estão em grave insegurança alimentar, uma vez que a Somália enfrenta “um nível de necessidades sem precedentes”.
Após cinco estações chuvosas fracassadas desde o final de 2020, com uma sexta provavelmente a seguir, a Somália parece atualmente incapaz de evitar a fome sem assistência humanitária. Esta situação é exacerbada pelo aumento dos preços, “excecionalmente elevados”, dos alimentos e pela insegurança no país, que está a dificultar a assistência humanitária. Os trabalhadores humanitários afirmaram, ainda, que a guerra na Ucrânia desviou o financiamento de alguns dos principais doadores.
Perante a perda generalizada de culturas, mortes de gado e receios de fome, centenas de milhares de pessoas já fugiram das suas casas em busca de assistência, disse Laerke. De acordo com o relatório, o financiamento da ajuda alimentar humanitária é atualmente suficiente para atingir mais de 5,8 milhões de pessoas por mês, em média, até março.