ONG acusa Governo moçambicano de “manipular” estatísticas sobre segurança alimentar 998

O Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), ONG moçambicana, classificou os novos dados sobre segurança alimentar no país apresentados pelo Ministério da Agricultura como manipulação estatística.

“O ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural deu uma aula de sapiência sobre como manipular as estatísticas para forçar narrativas de sucesso”, lê-se numa análise da organização ao evento público de quarta-feira.

O ministro “Celso Correia tenta explicar três refeições, mas ‘chumba’ por usar dados de 12 mil famílias recolhidos no período pós-colheita”. 

Em causa, a declaração do governante, feita no início do mês, de que 90% dos moçambicanos consegue ter acesso a três refeições diárias, palavras que foram alvo de várias críticas, devido às dificuldades de muitos moçambicanos no acesso a alimentos – e devido a crises humanitárias como em Cabo Delgado.

O ministro reiterou a posição no evento de quarta-feira, mas o CDD contesta o cenário, referindo que Celso Correia recorreu a um relatório específico.

Trata-se de um documento que “basicamente consistiu em perguntar a cerca 12 mil famílias (do universo de mais de seis milhões existentes no país) se tinham três refeições ao dia no período pós-colheita” – ou seja, desde novembro até este mês.

“Claro que a maioria tinha, mas a questão de fundo consiste em saber por quanto tempo”, questionou o CDD.

“É que os dados foram obtidos num momento muito oportuno para quem quer transmitir a ideia de progresso: um período em que os celeiros estão cheios”, sublinhou a organização.

O CDD salientou ainda na nota hoje divulgada que Celso Correia englobou no nível de segurança alimentar a população classificada no nível de ‘stress’ para ter comida (mais de 12 milhões de moçambicanos).

A organização referiu que, de acordo com os dados de quarta-feira, “apenas metade dos moçambicanos (mais de 16 milhões) é que está em situação de segurança alimentar”.

“A mensagem do CDD para o ministro é simples: do mesmo jeito que defende que não se deve pintar cenários miserabilistas de pobreza, também não se deve manipular as estatísticas para produzir dados tendenciosos com vista a promover narrativas de sucesso com as quais a população não se identifica”, concluiu o CDD.