Quase 100 países estão a ficar sem medicamentos para as pessoas com HIV por causa da interrupção de fornecimentos provocada pela pandemia da covid-19, alertou a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Segundo a agência das Nações Unidas, um total de 73 países comunicou que está à beira de esgotar as reservas de medicamentos antirretrovirais e outros 24 estão com reservas criticamente baixas.
Só nesses 24 países, cerca de 8,3 milhões de pessoas precisam desses medicamentos para sobreviver, um terço do total de pessoas infetadas com o HIV em todo o mundo, refere a OMS em comunicado.
A escassez deve-se a atrasos nas entregas dos antirretrovirais e à paragem forçada do transporte aéreo e terrestre, que se junta às limitações no acesso a serviços de saúde interrompidos durante as fases críticas de confinamento por causa da pandemia.
A OMS chega a estas conclusões ao cabo de uma sondagem internacional iniciada em maio, em que avisou que as perturbações no fornecimento de medicamentos para o HIV poderiam fazer duplicar as mortes por Sida só na África subsaariana, já este ano.
Segundo dados da OMS e da agência das Nações Unidas para enfrentar a sida, as novas infeções pelo vírus da imunodeficiência humana desceram 39 % entre 2000 e 2019, enquanto as mortes baixaram 51% no mesmo período, o que quer dizer que cerca de 15 milhões de vidas foram salvas pela terapia antirretroviral.
No entanto, nos dois últimos anos, o progresso tem estagnado, com números de novas infeções a fixarem-se em 1,7 milhões e uma redução de 730.000 para 690.000 mortes de 2018 para 2019, ano em que mais de 25 milhões de pessoas tiveram acesso à sua medicação.
“Não podemos deixar que a pandemia da covid-19 desfaça o que se conseguiu a custo na resposta global ao HIV”, afirmou o diretor geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, apelando às nações para fazerem “tudo o que puderem para garantir que as pessoas que precisam de tratamento para o HIV o continuam a ter”.
“Os serviços de prevenção e testagem não estão a chegar aos grupos que deles mais precisam”, afirma a OMS, que recomenda aos países que adotem estratégias como receitas médicas que valem para seis meses de medicação.
A OMS assinala que grupos populacionais como as crianças devem ter acesso a serviços de apoio, indicando que em 2019 morreram cerca de 95.000 crianças e 15.000 ficaram infetadas com o HIV, mas apenas 53% das crianças a precisar de antirretrovirais tiveram acesso.
Muitas mortes relacionadas com o HIV têm a ver com outras infeções que se aproveitam do sistema imunitário enfraquecido dos pacientes, desde a tuberculose, provocada por uma bactéria, às infeções virais como a hepatite ou a covid-19 ou provocadas por parasitas (toxoplasmose) ou fungos (histoplasmose).